Comandante
da Polícia Militar na região, o coronel Helson Léver Camilli admite que os
crimes contra entregadores de encomenda em bairros periféricos do Grande ABC é
uma das preocupações e foco de atuação da corporação ainda este ano. Segundo
ele, está sendo feito um estudo sobre cada caso para identificar semelhanças na
atuação dos bandidos. "Vamos levantar tudo detalhadamente."
As
estatísticas da SSP (Secretaria de Segurança Pública) mostram que cinco das
sete cidades tiveram aumento expressivo no roubo de carga no período de janeiro
a abril se comparado a 2011. "Em todos os outros itens tivemos redução.
Nos preocupa sim", disse Camilli. Mauá, de oito para 28 ocorrências, foi
quem mais teve aumento. Em seguida vem Santo André (de 44 a 62), Diadema (de
sete para 22) e São Bernardo (de 63 para 67).
Em nota,
os Correios alegam que mantêm monitoramento dos casos e, se verificarem que há
excessos, comunicam as autoridades e programam ações conjuntas. Informa que vem
realizando investimentos na tecnologia de rastreamento, sem mencionar valores,
e que aconselha os usuários a retirar suas encomendas nas agências.
Fora
isso, outra medida adotada sem alarde foi a implantação de escolta para os
entregadores, obtida somente depois de um abaixo-assinado, há cerca de dois
meses, mas ainda sem os resultados esperados. "Não existe respeito com a
gente", disse um carteiro. Vale a intuição. "Estamos tão experientes
que simplesmente sabemos quando vai acontecer."
"Não
deveria ser algo comum", avaliou Guerdson Ferreira, delegado seccional de
Santo André, cidade que teve mais bairros apontados como perigosos pelos
carteiros.
Segundo o
especialista em segurança pública e ex-coronel da PM, José Vicente da Silva
Filho, somente a resposta das autoridades aos criminosos poderá apresentar
melhoras nas estatísticas. "Não tem como prevenir. Tem que montar o
quebra-cabeça, ver quem são os responsáveis e combatê-lo. Somente assim a
tendência é deixá-lo pouco atrativo."
Para ele,
a facilidade notada pelos criminosos é evidente. "Eles testam vários tipos
de ações no meio da criminalidade. Se a coisa pega, isso acaba ficando atrativo
para os outros a acompanhar essas práticas".
Caixas
podem ser atrativo para ladrões
Um dos
problemas apontados pelos carteiros ouvidos pelo Diário é a forma como as
encomendas são despachadas pelos fabricantes para a entrega. "Muitas vezes
a caixa vem apenas com um adesivo, sem nenhum tipo de cobertura sobre a
embalagem. Os bandidos só de olhar sabem que dentro do carro tem produtos de
valor", disse um deles.
Para o
especialista em segurança José Vicente da Silva Filho, todo tipo de precaução
tem que ser levada em consideração. "Era melhor que evitassem chamar a
atenção de outros para os produtos que são carregados", disse.
Fora
isso, o ex-coronel da PM ressalta que como o serviço de entregas hoje
praticamente é feito apenas pelos Correios, os meios de se evitar os assaltos
ficam facilitados. "Monopolização é um problema. Se houvesse mais empresas
teriam como garantir uma maior segurança. As medidas tomadas ainda são
conservadoras."
Lojas de
eletrodomésticos da região também enfrentam o mesmo problema de serem roubadas
nas entregas. Mas como a maioria das compras é feita pela internet, o serviço
acaba ficando em sua grande maioria para os Correios. O foco dos bandidos,
apesar de ser para produtos de valor, acaba influenciando todos que usam os
serviços da estatal.
"Os
Correios oferecem sim um seguro. E se o cliente tiver uma TV roubada, ela será
enviada de novo. Mas, e aquela pessoa que manda um objeto pessoal, de grande
valor sentimental? Vai estar no meio dos pacotes que serão levados e ela será
prejudicada", completou um dos funcionários.
Deixar de
realizar as entregas, no entanto, está fora de cogitação para os funcionários.
Mesmo sem o apoio da população para identificar os assaltantes, eles garantem
que o peso do profissionalismo conta na hora de garantir o seu próprio
sustento. "Não deixaremos de ir por conta disso. Os crimes são um problema
social do país. O povo não pode ser prejudicado. A empresa e a polícia é que
precisam agir."
Fonte: Diário do Grande ABC