A
cabotagem, segmento de transporte de produtos entre portos de um mesmo país, está
despontando no Brasil como uma opção viável para viagens de longa distância
pela segurança e preço do frete. Entretanto, a escassez de mão de obra, preço
do combustível para os navios e a necessidade de que o meio de transporte tenha
bandeira brasileira são vistos como entraves para uma expansão mais acelerada
do modal no país.
Segundo a
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), de 2002 a 2011 a
movimentação de cargas pelo segmento de cabotagem cresceu 38,3 por cento.
Atualmente, as principais cargas movimentadas são combustíveis, óleos minerais
e bauxita.
"A
perspectiva de crescimento e diversificação da movimentação de cargas neste
modal é grande", disse o superintendente de navegação marítima e apoio da
Antaq, André Arruda, citando como fatores renovação da frota mercante nacional,
aumento da competitividade das empresas e desburocratização portuária.
O Plano
Nacional de Logística de Transportes (PNLT) prevê que o modal de transporte
aquaviário, que em 2005 correspondia a 13 por cento do total de transportes,
buscará atingir índice de 29 por cento de toda a carga transportada no Brasil
em 2025.
De acordo
com a Antaq, empresas da zona franca de Manaus, usam cada vez mais a cabotagem
para o transporte de seus produtos para São Paulo, principal centro consumidor
do país. "Um frete de caminhão, carregado com eletroeletrônicos, fica em
torno de 90 reais por metro quadrado; na cabotagem, no mesmo trecho, 76 reais
por metro quadrado, uma redução de 15 por cento e que pode ser maior,
dependendo do volume embarcado", afirma o superintendente.
Para
Roberto Rodrigues, presidente da Mercosul Line, empresa do grupo Maersk para
cabotagem no Brasil, no último ano houve "interesse e abertura" das
empresas em relação à cabotagem.
"São
três aspectos importantes: a oportunidade do frete reduzido em relação a outros
modais, a questão de menor avaria de carga e a segurança", afirmou o
executivo.
De acordo
com ele, o frete por meio de cabotagem é 20 a 30 por cento menor que no modal
rodoviário.
"Além disso, na cabotagem o índice de avarias é muito pequeno.
No rodoviário é muito maior, em eletroeletrônicos as avarias chegam a 2, 3 por
cento (da carga)", afirma.
A questão
de segurança também têm sido levada em conta. Isso porque no modal rodoviário
existe o risco de roubo de carga, enquanto em navios o risco é mínimo no
Brasil.
De acordo
com o coordenador do núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom
Cabral, Paulo Resende, o crescimento da cabotagem no Brasil também pode ser
explicado pela expansão e desenvolvimento das regiões norte e nordeste.
"Essas
regiões não tinham demanda muito grande, mas com o crescimento, a cabotagem de
longa distância ganhou espaço", afirmou.
Além
disso, Resende lembra que, enquanto a demanda interna no Brasil avança, os
investimentos em ferrovias e rodovias não acompanham essa evolução. "As
ferrovias são muito dedicadas ao minério de ferro. A cabotagem transporta
cargas com maior valor agregado, então a concorrência é mesmo com a
rodovia", explica.
GRANDES
ENTRAVES
Apesar do
potencial de crescimento, o segmento de cabotagem no Brasil ainda possui
fatores que limitam o avanço.
"Os
principais estão relacionados à falta de embarcações apropriadas, capacidade
insuficiente de terminais de contêineres e de infra-estrutura de acesso e
profundidades limitadas nos canais de acesso", afirma Arruda, da Antaq.
As
empresas do setor ouvidas pela Reuters citam ainda o preço dos combustíveis
como um limitador para o segmento.
"O
principal entrave é o bunker, o combustível de navegação. Armadores
estrangeiros abastecem no Brasil sem pagar imposto", disse Fernando Real,
presidente da Maestra, empresa de cabotagem controlada pela Triunfo
Participações. De acordo com ele, as empresas brasileiras pagam PIS/Cofins de
9,25 por cento e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
dos Estados. "O setor quer isonomia no longo curso", afirmou.
Além
disso, Rodrigues, da Mercosul Line, disse que o preço do bunker, fornecido pela
Petrobras, segue os padrões internacionais. "Isso é um desafio, porque o
combustível representa de 20 a 30 por cento do nosso custo operacional."
O
presidente da Maestra afirmou ainda que o setor encontra dificuldades para
crescer também porque a cabotagem requer navios de bandeira brasileira, e os
atuais estaleiros estão mais focados na produção de embarcações para o setor de
petróleo e gás do pré-sal brasileiro.
"Além
disso, é preciso abrir novas escolas para a formação de mão de obra
marítima", afirmou Real.
De acordo
com a Antaq, o Ensino Profissional Marítimo (EPM) é de responsabilidade da
Marinha, que está "tomando providências para aumentar significativamente o
número de profissionais marítimos a cada ano".
Fonte: Veja