Alguns
motoristas arrancam as placas. Outros simplesmente as ignoram. E assim os
caminhões continuam estacionando em locais proibidos, em ruas e avenidas de
Santos.
Na
Avenida Almirante Cochrane (Canal 5), entre as avenidas Afonso Pena e
Governador Mário Covas (Portuária), no Estuário, até a calçada virou
estacionamento para veículos pesados. Enquanto aguardam a vez para entrar em um
terminal, os caminhões impedem a passagem de pedestres. A Tribuna flagrou
quatro deles em cima da calçada.
Já na Rua
Silva Jardim, na Vila Nova, a proibição de estacionamento para ônibus e
caminhões parece ser apenas um detalhe sem importância. A Reportagem encontrou
mais de 10 veículos estacionados, muitos ao lado das placas que sinalizam as
irregularidades. No cruzamento com as ruas Henrique Ablas e República
Portuguesa, o abuso é ainda maior: um motorista estaciona o caminhão no meio da
rua.
No bairro
Encruzilhada, o problema é na Rua Pérsio de Queirós Filho, junto ao muro do
Clube Atlético Santista. Segundo o técnico em eletrônica Marcos de Oliveira
Lopes, morador de um prédio na via, das cinco placas de proibido estacionar,
três foram arrancadas. Os caminhões parados no local não atrapalham só o
trânsito. “É muita insegurança, à noite fica escuro e não temos visão da
calçada”. Lopes conta que usuários de drogas se escondem atrás dos veículos e
assaltam moradores.
Na Zona
Noroeste, a infração também é constante. A Avenida Roberto Molina Cintra, no
Santa Maria, é cotidianamente utilizada pelos caminhoneiros, principalmente
durante a noite.
Fiscalização
Segundo a
Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos, no ano passado houve 10.365
autuações a caminhões por estacionamento proibido na Cidade. A CET informa que
realiza blitze específicas, destinadas à fiscalização de caminhões que
estacionam em locais não permitidos. O trabalho é feito em conjunto com a
Polícia Militar, em pontos onde o número de reclamações é maior.
Com
relação à reposição de placas de ‘Proibido Estacionar Ônibus e Caminhões’, 700
delas foram recolocadas em 2010, além de 300 postes de sustentação. O prejuízo
foi de R$ 66 mil. No ano passado, o número aumentou: 920 placas foram repostas,
totalizando um custo aproximado de R$ 86 mil.
A
companhia diz ainda que vagas regulamentadas para o estacionamento de caminhões
foram criadas no São Manoel, em 2007, após reivindicações da Sociedade de
Melhoramentos do bairro. Na ocasião, 81 credenciais foram entregues aos
caminhoneiros residentes no bairro.
A CET
afirma que está estudando a criação de outros espaços em regiões da Zona
Portuária, que seriam igualmente utilizados mediante cadastramento. Até o ano
passado, a frota de caminhões registrada em Santos era de 10.072 veículos,
segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Na Baixada
Santista, o número sobe para 24.662.
Se os
caminhões têm extrema importância na economia do País e são essenciais para o
transporte de contêineres no Porto de Santos, eles também trazem enormes
problemas para a Cidade. O tráfego intenso rumo ao cais santista torna o
trânsito ainda mais caótico e a falta de áreas para estacionamento faz com que
a situação se agrave a cada novo recorde de movimentação de cargas. Sem opções
na área portuária, os veículos pesados invadem os bairros.
Como
autoridade portuária, a Codesp esclarece que disponibiliza áreas para
estacionamento nas avenidas Mário Covas e Augusto Barata, além de zonas de
estacionamento rotativo para atendimento a todos os terminais situados na área
do Porto.
Mas a
solução, admite a Codesp, passa pela mudança no modal de transporte utilizado.
Hoje a movimentação de cargas via ferrovia ainda é baixa, aproximadamente 22%
do total. “A estimativa do Governo Federal é de que a matriz de transporte de
cargas no País seja dividida entre três principais modais até 2025: 35%
ferroviário, 30% rodoviário e 29% marítimo e hidroviário. O restante deverá ser
transportado por dutovias e aeroportos”, explica em nota.
Sobre a
fiscalização dos caminhões, a assessoria de comunicação da Codesp afirma que
ação da Guarda Portuária restringe-se à área do Porto, limitada ao disposto no
convênio estabelecido com a Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos.
Sindicato
O diretor
do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada
Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Fredy Aurélio Fraile Soares, garante que
orienta os caminhoneiros a não arrancarem as placas. “Isso existia muito no
passado. Hoje, a Avenida Perimetral, por exemplo, está com placas e ninguém
tira mais. O sindicato pede que isso não aconteça”.
Mas,
segundo o representante do sindicato, são “pouquíssimas” as áreas
regulamentadas pela Prefeitura.
“Nós pagamos o ISS (Imposto Sobre Serviços)
para ter o alvará; então, estamos pedindo para a CET não multar o caminhoneiro
da Cidade que parar na Avenida Perimetral. Já que a Prefeitura cobra esse ISS,
que ela não multe a gente. Chega a ser até um crime trabalhar numa cidade
portuária e não ter um lugar para guardar o caminhão. Todas as ruas têm placa
de proibição”.
Para o
diretor do Sindicam, também é necessário que a Codesp implante novas áreas para
os caminhoneiros. “A Codesp tem projeto de um estacionamento na Rua Augusto
Barata, na Alemoa, para 800 caminhões. Hoje, na mesma rua existe apenas uma
área cedida para 120 veículos, que é muito pequena e sem estrutura”.
Soares
considera essa a única medida para solucionar o problema. “O caminhoneiro vai
para essas áreas (proibidas) porque ele não tem opção. Se tiver um local
destinado ao caminhoneiro, ele não vai querer entrar no Município (nos
bairros). Nós somos contra entrar na Cidade; o veículo é muito grande, é
perigoso, atrapalha o fluxo”.
Fonte: A Tribuna