Empresas do agronegócio e grandes transportadores pressionam por
alterações na Lei dos Caminhoneiros que ampliam os períodos máximos de
direção dos trabalhadores sem descanso.
Aprovada no ano passado, a lei impõe restrições ao tempo de direção
dos motoristas como forma de aumentar a segurança das estradas.
Motoristas passaram a ter direito a 30 minutos de parada a cada quatro
horas de direção e um total de 11 horas seguidas de descanso diário.
As empresas argumentam que a lei eleva custos ao consumidor e que sua
execu- ção é impraticável --argumento refutado pelo Ministério Público do Trabalho
e entidades ligadas à segurança no trânsito.
Proposta em discussão no Congresso, e também encaminhada à Casa Civil,
permite que a jornada passe a ser de seis horas seguidas com 30 minutos de
descanso.
E que o tempo de descanso diário possa ser quebrado em oito horas mais
três horas. Além disso, o limite de horas extras passaria de duas para
quatro.
No Congresso, a comissão criada para discutir a mudança é presidida
pelo deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP). Ele é da bancada ruralista e
favorável às mudanças na lei. Um relatório é esperado em duas semanas.
Marquezelli defende que o tempo de descanso deve ser determinado
estrada por estrada, dependendo das condições de cada trajeto. Ele considera
que a mudança não terá impacto nos acidentes.
"Não vai aumentar porque vamos obrigar todos os motoristas a
fazer exames de sangue e urina uma vez por ano ou a cada dois anos. De todos
os veículos. Pode ver: onde tem acidente com caminhão tem um carro ou uma
moto", disse Marquezzelli.
O deputado Hugo Leal (PSC-RJ) está na comissão e afirma que a maioria
dos parlamentares integrantes do grupo é da área ruralista e que a proposta
final será por alterações na lei.
GARANTIR A FADIGA
O procurador do Trabalho Paulo Douglas, que participou da formulação
da lei atual, diz que é possível promover flexibilizações como a da quebra do
descanso de 11 horas seguidos. Mas que o aumento do número de horas extras e
do tempo de direção seguido seria retrocesso.
"A lei que garantia o descanso agora vai garantir a fadiga",
afirma Douglas. "O quadro que se delineia é que as mudanças virão,
inclusive com apoio do governo."
Diretor de medicina de tráfego da Abramet (Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Junior foi ouvido pela comissão
e disse que a lei como está já não garante o repouso adequado do
caminhoneiro.
Segundo ele, o ideal --pelas condições insalubres, perigosas e
penosas-- seria jornada de seis horas com 20 minutos de descanso a cada duas
horas.
"Quando disse isso, fui ironizado pelo presidente da comissão.
Acho que uma comissão como essa não deveria ser presidida por alguém que
exerce a atividade no setor."
Procurada, a Casa Civil não havia se pronunciado até a conclusão desta
edição.
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Fonte.: Folha de S. Paulo
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