Quem está
na “melhor idade” se lembra que a malha ferroviária do Brasil, no Sul, Sudeste,
Nordeste e no Norte era boa e confiável. Tanto para passageiros como para
cargas. Ir de Porto Alegre a São Paulo de trem era comum. Nenhuma extravagância
de aventureiros.
No
entanto, o rodoviarismo chegou com a indústria automobilística e ficamos numa
situação ingrata: as ferrovias foram abandonadas de maneira lenta, mas
irreversível, enquanto a produção de veículos de todos os tipos, incluindo
ônibus e caminhões, não teve a contrapartida de novas e seguras rodovias.
O
resultado, passados 50 anos, é que registramos milhares de mortes por ano em
rodovias saturadas, estreitas e com má conservação, uma discussão sem fim e
resultados sobre a cobrança ou não de pedágios, enquanto o custo Brasil aumenta
pela falta de hidrovias e, mais ainda, de ferrovias. Pois a matriz ideal de
transportes para o País nos próximos 10 anos, ou seja, em 2023, seria formada
por 35% de ferrovias e 29% de rodovias.
A
avaliação é de técnicos do Ministério dos Transportes. Os percentuais restantes
ficariam por conta de outros modais, como hidrovias, por exemplo. Esta seria a
composição da matriz de transportes a que o Brasil deverá chegar até 2023 se
for mantido o fluxo de investimentos programados. Isso significa dizer que nos
dois modais principais, a ferrovia terá que subir de uma participação atual de
25% no total para 35% até 2023, enquanto que as rodovias, que hoje beiram os
60%, deverão cair para 29% da matriz mesmo com os investimentos.
Boa parte
dos investimentos previstos para as rodovias será destinada à ampliação e
duplicação da malha já existente e não só para a construção de mais estradas.
Sobre as críticas comuns de que o Brasil é um país “rodoviarista”, técnicos
federais contradizem. Para eles, está errada esta visão, pois no Brasil a malha
rodoviária não chega a 300 mil quilômetros se juntarmos todas as jurisdições.
Nos Estados Unidos, a malha rodoviária é de 1,5 milhão de quilômetros.
Comparado com o Brasil, a nossa malha beira ao ridículo.
Então,
está na hora de sair do discurso e colocar em prática o que todos os
especialistas dizem há pelo menos três décadas, o Brasil deixou de lado os dois
modais de transporte mais econômicos, eficientes e baratos que são o
ferroviário e o hidroviário. Recuperá-los, modernizá-los e ampliá-los é tarefa
para mais de um governo evidentemente, seja o federal seja o estadual. Talvez a
disseminação popular do automóvel justifique um certo abandono destes meios de
transporte. Mas eles visam cargas e não se pode também ignorar as
possibilidades de transportar passageiros.
Quando os
brasileiros voltam da Europa e dos Estados Unidos – agora também da China –
falam maravilhas do que viram em termos de metrôs e trens ligando cidades com
muito requinte, pontualidade e conforto. Isso pode ser uma realidade também no
Rio Grande do Sul e no Brasil. Os governos não têm, no entanto, verbas para
aplicar diretamente. Então que se façam parcerias com a iniciativa privada
neste sentido. A União lançou ambicioso programa de concessões ferroviárias.
Que tenha sucesso, e logo, é o que se almeja.
Fonte.: Jornal do Comércio – RS