Essa é a
avaliação de associações dos setores de construção, empresários e técnicos da
área ouvidos pela Folha sobre os seguidos pacotes de obras rodoviárias,
ferroviárias, metroviárias e hidroviárias anunciados pelos governos federal e
estaduais desde o ano passado.
No mês
passado foi anunciado pelo governo federal mais um desses pacotes, o Plano de
Investimento em Logística, com previsão de gastos de quase R$ 80 bilhões em
cinco anos nas áreas de ferrovias e rodovias.
Antes
dele o governo já havia anunciado recursos para grandes obras em metrôs, trens
e rodovias, sem contar os investimentos planejados pelos governos dos Estados e
concessões em andamento.
O alerta
de que os planos vão encontrar uma dura realidade para sair do papel foi dado
pelo secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Jurandir Fernandes,
no início deste mês.
Ele disse
que obras de metrô na capital paulista estão paradas não mais por falta de
dinheiro ou licenças: não há equipamentos disponíveis.
Mário
Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema -associação que reúne empresas
de aluguel de máquinas pesadas-, disse que alguns setores chegaram neste ano a
dobrar o preço de seus produtos por falta de equipamentos no mercado.
"Para
não ter aumento de custo das obras, nós precisamos ter mais facilidades para
trazer equipamentos de fora", afirma Marques.
O
Ministério dos Transportes, responsável por planos de investimentos federais,
não se pronunciou sobre a avaliação das associações.
O pacote
de transportes não é o único de infraestrutura. As obras competem em
equipamento e pessoal com as de outros setores, como elétrico, petróleo,
portos, aeroportos e construção civil, que têm mais pelo menos R$ 1 trilhão de
gastos previstos.
Além
disso, é preciso concluir bilionárias obras para a Copa e a Olimpíada.
Luciano
Amadio, presidente da Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras
Públicas), diz que o maior problema está na mão de obra desqualificada.
Segundo
ele, algumas empresas estão levando até seis meses para conseguir pessoas em
número suficiente para iniciar um projeto e isso tende a piorar.
No caso
dos engenheiros, o Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) aponta
que o país tem a necessidade de formar 300 mil profissionais, e a perspectiva é
ficar na casa dos 215 mil.
"O
governo tem que começar já um programa de formação. Só o trem-bala necessitará
de 30 mil empregados diretos", disse Amadio.
Além de
pessoal para acompanhar as obras, é preciso gente para elaborar os mais de 300
projetos que precisarão ser desenvolvidos antes do início das construções.
Sem isso,
corre-se o risco de o país voltar a ter os problemas do ciclo de obras do PAC
até 2010.
Iniciadas em muitos casos com projetos ruins, elas resultaram em
atrasos e suspeitas de superfaturamento.
Dados do
IBGE mostram que em 2010, pico do investimento em infraestrutura federal, o
país fez pouco mais de R$ 40 bilhões em obras de ferrovias e rodovias. Fazer o
que está previsto em cinco anos seria gastar cerca de 50% mais que no ano de
pico.
"Estamos
vibrando porque esse é um santo problema. Temos capacidade de nos adaptar para
fazer o que for preciso. Mas vamos fazer o que tivermos capacidade de
fazer", afirmou Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria
da Construção.
Fonte.: Jornal Floripa