As razões que levaram ao
encarecimento do dólar poderão também reduzir o volume de recursos externos
para o Programa de Investimentos em Logística (PIL), do governo federal. A
migração de capitais para os Estados Unidos e outros destinos considerados
seguros - consequência da possibilidade de mudança da política monetária
norte-americana - reduz a atratividade de um programa que já era criticado pelo
excesso de intervencionismo e por ser oferecido por um país que tem crescido
pouco.
"Não virá tanto
investimento externo quanto eles (o governo) esperam", diz o professor
Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Não acho que haverá
leilões vazios, mas a concorrência não será acirrada." "Para trazer
dólares lá de fora, será preciso oferecer taxas internas de retorno maiores
para os empreendimentos e aumentar a estabilidade jurídica e administrativa nos
processos de concessão", diz o professor Paulo Resende, coordenador do
Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral. Ele acha que a
baixa rentabilidade oferecida pelos empreendimentos, somada a um ambiente
político desfavorável às concessões por causa das manifestações recentes,
"chacoalham" o interesse do investidor externo.
A pouca atratividade para
o capital externo é um problema porque o governo conta com ele para financiar
uma parte considerável do programa. A maior parte, porém, deverá vir do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O governo já indicou a potenciais
investidores em ferrovias que o banco está preparado para financiar todo o
investimento. O mesmo vale para rodovias. No caso dos aeroportos, é exigida a
presença de um sócio externo, e nesse caso o governo espera que ele já venha
com sua parte financeira estruturada.
Quanto menos dinheiro vier
de fora, mais sobrecarregado ficará o banco oficial. "E haja orçamento
para sustentar isso", observa um executivo que esteve na semana passada em
Brasília para discutir o programa.
Pelo sim pelo não, a ministra-chefe
da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, Fernando Pimentel, começam a semana na China para
"vender" os empreendimentos do PIL. Eles foram convidados pelo
governo daquele país para fazer uma exposição sobre o programa. Há expectativa,
do lado brasileiro, da participação dos chineses com investimentos e tecnologia
em ferrovias.
Custo
O financiamento externo às
concessões deverá ser mais afetado que o custo dos investimentos. No caso das
rodovias, praticamente tudo que será utilizado nas obras de duplicação é
matéria-prima local. O mesmo vale para os aeroportos, que exigirão um volume
grande de obras civis. Eles ainda têm a vantagem adicional de ter a maior parte
de suas receitas dolarizada.
Em ferrovias, há uma
parcela que tem de ser importada. O Brasil não fabrica trilhos, portanto será
necessário importá-los para cobrir os 11 mil quilômetros que o governo quer ver
construídos nos próximos cinco anos.
Ainda assim, o impacto não
deverá ser grande, acredita o presidente para a América Latina da União
Internacional de Ferrovias (UIC), Guilherme Quintella. Ele informa que 16% do
investimento, abrangendo trilhos e outros equipamentos, virão de fora. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Isto É Dinheiro