Fatores estruturais como as más condições das estradas e rodovias e a
falta de interligação com diferentes modais de transporte são algumas das
razões que fazem com que os custos logísticos já comprometam, em média, 13,1%
das receitas das empresas brasileiras. Em alguns setores, esse percentual
pode chegar a 22,69% (bens de capital) ou 20,88% (indústria de construção).
Na média, os custos logísticos abocanham 7,5% da receita bruta das companhias
americanas. A despesa logística no Brasil, além de encarecer o preço final
dos produtos e commodities, também reduz a competitividade do país no
exterior.
"Uma empresa brasileira que estiver em pé de igualdade com uma
concorrente dos EUA terá custos logísticos 5,6% maiores, perdendo
competitividade e repassando esses custos para suas mercadorias ou mesmo para
os fornecedores", diz Paulo Resende, do Núcleo de Infraestrutura e
Logística da Fundação Dom Cabral, que conduziu a pesquisa "Custos
Logísticos no Brasil", divulgada em outubro.
Estudos como esse indicam que o aumento da competitividade do Brasil
passa pela superação de gargalos não apenas na infraestrutura logística, mas
em outro setores como óleo e gás, saneamento, geração e transmissão de
energia e telecomunicações.
Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Tecnologia para
Equipamentos e Manutenção (Sobratema) este ano mostra que o principal
problema para enfrentar esses gargalos é a velocidade com que as obras saem
do papel. Haja vista que dos R$ 955 bilhões previstos na segunda fase do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de 2011 a 2014, apenas 34% haviam
sido desembolsados até junho. Nos aeroportos, com a previsão de investir R$ 2
bilhões em 2012, a Infraero desembolsou 29,4% desse montante nos oito
primeiros meses do ano.
Segundo o estudo, os investimentos públicos e privados em
infraestrutura cresceram 73,5% entre 2007 e 2011 no Brasil - para 2012, a
alta estimada é de 17,6%. Apesar da curva de alta, o percentual de
investimentos em relação ao PIB está em queda. Para 2012, a expectativa é de
um índice de 2% nessa relação, colocando o Brasil atrás de países como Chile
e Colômbia no ranking de indicadores de qualidade de infraestrutura. O
percentual, que era de 2,45%, em 2009, passou para 2,30% (2010) e chegou a
2,05% em 2011, segundo a Sobratema. "O investimento em infraestrutura em
relação ao PIB é incapaz de manter os ativos existentes", diz Mario
Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema.
Para especialistas, o percentual mínimo para manter os ativos atuais é
de 3%. Para a superação de gargalos, a Associação Brasileira da
Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) defende um percentual de 4%.
O estudo da Sobratema mostra que os investimentos programados devem se
manter em alta nos próximos cinco anos. Com informações de 1200 fontes
primárias e secundárias envolvidas em projetos públicos e privados em todo o
país, em oito setores da economia, e considerando as datas de início e de
entrega das obras, além de empresas já contratadas, a entidade prevê R$ 1,26
trilhão em aportes financeiros em infraestrutura até 2017. "Em nossa
história recente nunca tivemos uma situação como essa, de dispormos de
recursos e não termos a capacidade de realizar os investimentos", diz
Marques.
Se concretizada, a maior fatia desse bolo será puxada pelos
investimentos no pré-sal, com os segmentos de óleo e gás na liderança (43%
dos aportes) - apenas as áreas de exploração e produção devem responder por
R$ 724 bilhões. O segmento de transportes aparece em seguida, com R$ 397,5
bilhões em investimentos, divididos entre portos e hidrovias (30%), ferrovias
(26%) e rodovias (18%).
Em terceiro na lista consta o setor energético, que
deve movimentar investimentos de R$ 216,61 bilhões até 2017, com destaque
para obras de geração de energia, que representam 89% desse montante. A área
de saneamento é a quarta colocada, com investimentos programados de R$ 92,3
bilhões.
Já o governo demonstra que ligou o sinal de alerta ao prever aportes
que superam a casa de R$ 1 trilhão nos próximos anos, além de reforçar a
atração da iniciativa privada em modelos de concessões e parcerias público
privadas. A empreitada teve início com a concessão de três aeroportos, em
meados do ano e ganhou a companhia de um pacote de R$ 133 bilhões para
concessões em nove trechos de rodovias e 12 de ferrovias. A projeção é que,
dentro de quatro anos, apenas a atual malha ferroviária de cargas passe de
28,6 mil km para 40 mil km.
O vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sérgio Quintella,
defende que, mais do que recursos, o grande gargalo recai na falta de um
planejamento integrado. Para ele, o Brasil perdeu a capacidade de fazer
planejamento de longo prazo, com mais respostas pontuais do que propriamente
um projeto efetivo que encare a infraestrutura de forma sistêmica.
Para a Abdib, o desafio do Brasil é acelerar os investimentos. Números
da entidade mostram que os investimentos públicos e privados em
infraestrutura passaram de R$ 63,2 bilhões, em 2003, para R$ 173,2 bilhões,
no ano passado. Mas ainda é pouco.
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Fonte.: Valor Econômico
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