A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)
realizou audiência pública nesta segunda-feira (3) para debater o Estatuto do
Motorista (PLS 271/2008). Foram discutidos tanto o projeto que tramita no
Congresso, do senador Paulo Paim (PT-RS), quanto a lei que regulamenta a
profissão (Lei 12.619/2012), recentemente aprovada.
A lei trata de questões como a jornada de trabalho e o tempo de
direção dos motoristas profissionais, para minimizar os riscos inerentes à
atividade. Proíbe, por exemplo, o trabalho por mais de quatro horas
ininterruptas sem que haja um intervalo mínimo de 30 minutos de descanso. O
descanso diário deve ser de 11 horas, com paradas obrigatórias também para as
refeições.
Na avaliação dos participantes do debate, caberá ao projeto que cria o
Estatuto do Motorista corrigir distorções na lei em vigor. Eles foram
unânimes em reconhecer que a legislação representou um grande avanço, mas,
também entendem que uma certa flexibilização contribuiria para dar
efetividade à norma.
"Precisamos encontrar um meio termo que seja produtivo para todo
o país. Não mais o exagero das 26 horas ininterruptas de direção, mas também
é inadmissível que, em longas jornadas, o motorista seja obrigado a descansar
durante 11 horas, longe de sua casa", disse o presidente do Sindicato
dos Transportadores Autônomos de Cargas de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos
Alberto Litti Dahmer, que também é da direção da Secretaria Nacional dos
Transportadores Autônomos de Cargas (Sentac) da CGTB e vice-presidente da Central.
Uma solução, na avaliação do presidente da Associação Brasileira de
Transportes Internacionais (ABTI), Luiz Alberto Micarone, seria dar ao
motorista a possibilidade de descansar menos – até nove horas – e compensar
as horas trabalhadas a mais no retorno para casa.
"É melhor que ele desfrute dessas horas de descanso com sua
família, ao invés de nos postos de gasolina, nas beiras de estrada, à mercê
da prostituição e de vícios diversos", disse Micarone.
Pedro Lopes, presidente da Federação de Empresas de Transporte de
Carga e Logística Santa Catarina (Fetrancesc), também diretor da Associação
Nacional de Transporte de Cargas e Logística (ANTC), destacou compromissos
dos transportadores com a busca de soluções, mas também preocupação com os
custos e as dificuldades operacionais associadas à aplicação das novas
regras.
Neori Tigrão, do Movimento Brasil Caminhoneiro, que representa
caminhoneiros autônomos, disse que, a seu ver, o ideal é que as jornadas até
o momento da parada para descanso sejam reduzidas de forma gradual, até que
se chegue aos limites determinados pela lei num prazo de cinco anos.
Ao mesmo tempo, manifestou otimismo em relação a entendimentos entre
todas as partes para solucionar impasses em relação à lei recente e também em
relação ao conteúdo do Estatuto do Motorista.
Mesa de negociação
Os debatedores também apontaram a necessidade da presença de
representantes do governo e das empresas embarcadoras na mesa de negociações.
O vereador de Uberlândia e representante da Força Sindical, Célio Moreira,
frisou que cabe ao governo, por exemplo, investir nos pontos de apoio nas
principais rodovias para garantir o cumprimento da lei. O superintendente da
Associação Brasileira de Transportes Terrestres de Passageiros (Abrati), José
Luiz Antolin, concordou: "Se o governo não estiver presente e não
caminhar no mesmo passo, a solução não virá".
O representante do Ministério do Trabalho, o auditor fiscal Naldenis
Martins, apresentou números que mostram que o transporte rodoviário de cargas
lidera com folga os dados referentes aos acidentes fatais no país.
Naldenis fez um apelo às empresas embarcadoras, para que incluam a
preocupação com os motoristas de suas cargas entre suas políticas de
responsabilidade social.
"Muitas empresas demonstram muita preocupação com a origem do
produto, preterindo, por exemplo, fornecedores que utilizam trabalho escravo.
No entanto, não se preocupam com as condições do transporte de suas
mercadorias", disse Naldenis.
Estatuto do Motorista
O projeto do Estatuto do Motorista propõe a regulação de assuntos
excluídos da Lei 12.619/2012, como pagamento de adicional de periculosidade e
garantia de aposentadoria especial à categoria após 25 anos de serviço.
A matéria tramita em conjunto com os PLS 91/2003, 301/2012 e 213/2012,
na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI). Também passará pelas
comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); Assuntos Econômicos
(CAE); Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH); e de Assuntos
Sociais (CAS), cabendo a esta última decisão terminativa.
Otávio Viana Vieira da Cunha Filho, da Associação Nacional das
Empresas de Transporte Urbano, afirmou que o projeto avança em pontos
importantes. Citou, como exemplo, a exigência de cursos de formação e
qualificação para os motoristas do transporte urbano. Ele observou que os
novos veículos incluem avanços tecnológicos que impõem maior qualificação.
Porém, salientou que alguns benefícios sugeridos podem impactar os custos das
empresas em até 30%.
Entre os pontos que se refletirão em novos custos, citou a proposta de
aposentadoria aos 25 anos de serviço para os motoristas do transporte urbano.
Nesse caso, as empresas teriam que arcar com uma contribuição adicional para
a Previdência.
Outros itens são a instituição de adicionais por hora noturna e de
"penosidade", além de 100% do valor sobre as horas extras e uma
jornada diária de seis horas de trabalho. Como disse Otávio Viana, algumas
capitais já asseguram jornada inferior a oito horas, como Brasília, Rio de
Janeiro e São Paulo, mas em tais casos as administrações subsidiam o
transporte urbano. Ele afirmou que, sem subsídios, esses ganhos irão impactar
o custo das tarifas para os usuários. A seu ver, esses benefícios devem
continuar sendo objeto de negociação dentro dos acordos coletivos entre os
sindicatos patronais e de trabalhadores.
Entendimentos
Ficou decidido, na audiência, que representantes da área patronal e
dos motoristas vão realizar novas rodadas de encontro para debater os pontos
abordados, além de nova audiência na CDH, da próxima vez com convites ao
Ministério da Fazenda e da Previdência. A intenção é chegar a um entendimento
com as duas pastas, em relação ao futuro estatuto, evitando possíveis vetos
ao texto.
De acordo com o senador Paulo Paim (PT-RS), a intenção é votar o
projeto ainda em 2013. Também participou da audiência o senador Cristovam
Buarque (PDT-DF).
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Fonte.: Mundo Sindical
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