Sai ano,
entra ano e o Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (Siniav)
não sai do chão. Criado com a proposta de “chipar” toda a frota de veículos do
Brasil, o projeto foi lançado em 2006 e, desde lá, vem sendo adiado. Agora, o
governo federal trabalha com uma nova data para o início da implantação:
janeiro de 2013.
O projeto
prevê a instalação de etiquetas eletrônicas no para-brisa dos automóveis. Os
sinais destes dispositivos serão captados por antenas instaladas em pórticos e
espalhadas pelas ruas e estradas para fazer a identificação de dados como ano,
marca, modelo, combustível, potência e placa dos veículos.
Também
poderão ficar registradas a data e o horário em que o veículo passou pelo
local. Depois de captadas, as informações serão enviadas para sistemas
informatizados e bases de dados nacionais e locais. A comunicação se dará via
radiofrequência, tecnologia conhecida como RFID.
O
objetivo do governo federal com o projeto é aumentar a segurança e mapear o
tráfego nas principais vias das cidades brasileiras. Mas os desafios não serão
pequenos. Além das questões técnicas, a iniciativa enfrenta a resistência de
alguns setores da sociedade, que têm receio de que o Siniav possa se
transformar em uma espécie de big brother, através do qual as pessoas passariam
a ser monitoradas através dos seus automóveis de passeio, caminhões e motos.
Técnicos
envolvidos no desenvolvimento desse projeto, porém, não acreditam que isso
possa acontecer, já que as antenas captarão apenas os dados visíveis dos
veículos. Os que, por ventura, forem objeto de localização terão informações
adicionais colocadas na base de dados, mas, em nenhuma situação poderão constar
dados pessoais dos proprietários.
Para o
diretor de rastreamento e monitoramento da Associação Brasileira das Empresas
de Gerenciamento de Riscos e de Tecnologia de Rastreamento e Monitoramento
(Gristec), Eliéser Souza, essas questões precisam ser resolvidas logo. “É
fundamental que o Brasil evolua nessa proposta e em sistemas de prevenção,
especialmente no que diz respeito a roubos de carga e de fiscalização. A
quantidade de veículos irregulares que circula no Brasil é enorme e é muito
difícil de ser controlada”, afirma. Ele observa que é comum projetos como esse
demorarem para se tornar realidade, especialmente nos casos em que há troca de
governo.
Projeto
similar ao Siniav já está em operação em São Paulo, onde é utilizado para
permitir a cobrança eletrônica de pedágio nas rodovias paulistas. O nome do
sistema é Ponto a Ponto, e a lógica e a tecnologia são as mesmas do Siniav, já
que a frequência do RFID usada também é de 915 Mhz, o que elimina a necessidade
de uso de bateria nos tags instalados nos veículos.
O sistema
atual, o Sem Parar, utiliza a frequência de 5,8 GHz, e a bateria precisa ser
substituída a cada quatro anos. “Todo o universo do Siniav, como antena e
backoffice, já existe e vem sendo usado no pedágio”, conta Dario Sassi Thober,
diretor e fundador do Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun. A
entidade sem fins lucrativos foi a responsável por essa implementação, que já
está em curso em quatro rodovias paulistas. As concessionárias de rodovias de
São Paulo terão até 2013 para se adaptarem, e os usuários terão dois anos para
a substituição gratuita do equipamento, a partir de janeiro do ano que vem.
A
expectativa do governo paulista com o Ponto a Ponto é de que aqueles que
aderirem ao sistema irão economizar 60,4% nas viagens para Campinas, passando a
pagar R$ 4,00 de pedágio ao invés dos R$ 10,10 que são cobrados atualmente. A
Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) já começou o agendamento
para a instalação de tags nos veículos do estado. Na primeira fase do projeto,
o Sistema Ponto a Ponto será implantado entre o km 15 (próximo de Sorocaba) e
km 77,6 (em Campinas). Seis pórticos serão instalados ao longo da rodovia para
fazer a leitura dos sensores.
O uso do
RFID é bastante amplo e, dentro das especificações do Siniav, não há nenhum
impedimento para a sua utilização para a cobrança de pedágios, como está sendo
feito em São Paulo. As concessionárias de rodovias, entretanto, somente poderão
fazer uso do sistema para cobrar os pedágios depois da autorização dos
proprietários de veículos. “Essa tecnologia pode ser aplicada para criar um
pedágio urbano, substituir os radares de velocidade e controlar o movimento de
cargas e de notas fiscais”, garante Souza. Para que isso seja possível, é
necessário “fechar” as estradas da área com leitores, que precisarão estar
conectados a um centro que vai processar todas as informações capturadas dos
tags dos veículos.
Criptografia
deve garantir a inviolabilidade das informações
Ficou a
cargo do Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun a realização de um
estudo, encomendado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), para definir a tecnologia
a ser usada no Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos
(Siniav).
Nesse
material, inclusive, consta a recomendação ao governo federal pela adoção da
frequência de 915 megahertz e do sistema de criptografia dos dados. “O objetivo
é que a tag seja o mais inviolável possível”, observa Dario Sassi Thober,
diretor do Centro de Pesquisas.
Do ponto
de vista da tecnologia, o pesquisador explica que essas etiquetas serão
energizadas toda vez que passarem por uma das antenas leitoras homologadas. Os
dados serão processados, criptografados e, em seguida, enviados para uma
central de serviços ligada aos órgãos oficiais.
Cada
veículo terá uma chave de identificação única e, para tornar possível o
reconhecimento, o sistema precisa estar 100% atualizado. Por isso, sempre que
alguém adquirir um carro, no momento do emplacamento essa chave é enviada para
o Departamento Nacional de Trânsito, que comunica automaticamente a todos os
Detrans.
Isso
permitirá que um automóvel emplacado no Ceará tenha a sua tag identificado
quando estiver em São Paulo, por exemplo. “Não há invasão de privacidade. Os
dados do cidadão não ficam armazenados”, assegura. Thober destaca a importância
de não se confundir o Siniav com o Simrav, projeto governamental que prevê a
instalação de rastreadores GPS nos automóveis.
Ceitec
garante ter condições de atender parte da demanda
Um chip
desenvolvido pela Ceitec e que poderá ser usado para fazer o controle da frota
de veículos do Brasil, dentro do projeto do Sistema Nacional de Identificação
Automática de Veículos (Siniav), já está em fase de testes internos. A empresa,
com sede na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, já foi procurada por dois
players que produzem as tags, dentro das quais é colocado o chip. Em alguns
meses, devem ser iniciados os testes com esses dispositivos em veículos, junto
com esses possíveis parceiros.
O chip
vai entrar em produção no início do ano que vem e, até maio, deverá estar
disponível no mercado. “Estamos preparados para atender boa parte desse
mercado, que em um primeiro momento deve ser de 10 milhões de chips”, garante o
superintendente de desenvolvimento de Produtos e Negócios da Ceitec, Reinaldo
de Bernardi.
A
utilização de uma tecnologia diferente daquela compatível com os equipamentos
da Ceitec, vai fazer com que a fabricação do chip seja feita fora do Brasil.
Porém, diversas etapas de pós-produção serão realizadas na unidade
porto-alegrense.
O chip
desenvolvido pela Ceitec atende aos requisitos do Siniav e vai se comunicar com
os portais que serão espalhados pelas cidades através de um protocolo de
comunicação por radiofrequência. Quando o carro se aproximar dessas centrais a
leitura da tag será automática, gerando a identificação de dados como o modelo
do carro e o horário em que ele passou por determinado portal.
A leitura
pode ser feita a uma distância de 15 a 20 metros e com veículos em uma
velocidade superior a 120 km por hora. O chip possui duas áreas de memória, uma
mais aberta e outra protegida por criptografia. “É muito pouco provável que
quem está de fora consiga ler alguma informação, já que a proteção é grande”,
afirma Bernardi.
Detran
gaúcho pede mais debate sobre projeto
Caso o
início para a implantação do Sistema Nacional de Identificação Automática de
Veículos (Siniav) fosse dado realmente em julho, como previsto inicialmente
pelo governo federal, o Detran do Rio Grande do Sul não estaria pronto. “Os
nossos técnicos estão analisando o projeto que possui uma linguagem
extremamente técnica e precisa ser muito bem compreendido”, admite Ildo Mário
Szinvelski, diretor-técnico do Detran-RS.
Essa
realidade é a mesma encontrada em vários estados, onde ainda falta entendimento
exato sobre o Siniav. A constatação é preocupante, já que, de acordo com o
Denatran, é responsabilidade do Detran de cada estado conduzir a instalação da
etiqueta eletrônica na frota nacional, estimada em 70 milhões de unidades.
Szinvelski
acredita que o Siniav trará um controle muito mais eficiente da frota de
veículos das cidades. Porém, para que isso seja possível, é preciso definir um
padrão nacional a ser adotado em todos os estados da federação. “É preciso que
seja feito um debate mais amplo sobre esse tema, envolvendo a associação dos
Detrans”, defende.
Atualmente,
já existe um sistema com a mesma lógica Siniav em operação no Rio Grande do
Sul. O Sem Parar/Via Fácil é um serviço de pagamento eletrônico no qual uma
antena detecta automaticamente a presença dos veículos com a tag e libera a
passagem em estacionamentos e pedágios. No caso do Siniav, porém, o uso do RFID
permitirá que seja feito o reconhecimento de diversos dados dos veículos.
Fonte: Jornal do Comércio – RS