O aumento no preço do diesel deverá elevar em 2,16 por cento o custo
do frete de produtos agrícolas no Brasil, em um momento em que o setor já se
prepara para enfrentar gastos elevados com transporte rodoviário para escoar
uma safra recorde de grãos, disse nesta quinta-feira a associação que reúne
as transportadoras do país.
O aumento nos combustíveis, anunciado na terça-feira pela Petrobras,
foi de 5,4 por cento para o diesel e 6,6 por cento para a gasolina, nas
refinarias.
A NTC&Logística, associação que reúne as mais importantes empresas
de transporte do Brasil, calcula que o diesel tenha peso de 40 por cento nos
custos do frete agropecuário, que em grande parte é feito em caminhões de
porte pesado, os chamados "bitrens", percorrendo longas distâncias.
"O agronegócio usa muito mais o bitrem de sete eixos, com as
carrocerias graneleiras", lembra Neuto Gonçalves dos Reis,
diretor-técnico da NTC.
Para o transporte rodoviário em geral no país, a entidade prevê
aumento de 1,52 por cento no frete, uma vez que na média da frota brasileira
de caminhões o diesel representa 30 por cento dos custos operacionais.
A NTC lembra que o estudo representa uma previsão, já que só será
possível estimar o real aumento de custos quando o preço do diesel for todo
reajustado nas bombas dos postos e incorporado ao cotidiano das
transportadoras.
TRANSPORTE DA SAFRA
O setor agrícola pode se preparar para uma safra com transporte
rodoviário que pode ser até 50 por cento mais caro, em determinados momentos,
acrescentando-se outros fatores ao aumento do diesel, incluindo a lei que
restringe a jornada dos caminhoneiros, afirma Reis.
"Acredito que vai haver pico de frete", diz ele.
A estimativa está em linha com a projeção da Esalq-Log, braço de
pesquisa em logística do agronegócio da Universidade de São Paulo, que também
projeta aumento de até 50 por cento no auge da safra das principais regiões
produtoras.
O diesel mais caro soma-se a uma demanda maior por caminhões, já que o
Brasil vai colher uma safra recorde de 82,7 milhões de toneladas de soja em
uma grande safra de milho verão, de 34,7 milhões de toneladas, segundo
estimativas do governo.
Outro grande problema apontado por produtores, indústrias e
transportadoras tem relação com as novas restrições à jornada de trabalho dos
caminhoneiros, que entraram em vigor em meados do ano passado, já após o pico
do escoamento de grãos.
"No setor todo, não só no agronegócio, estimamos a falta de 80
mil motoristas", apontou o diretor da NTC.
A lei federal 12.619 proíbe os motoristas de caminhões de dirigir por
um período superior a quatro horas sem um descanso mínimo de 30 minutos, além
de impor jornada de oito horas diárias, com repouso de 11 horas a cada dia,
com o veículo estacionado.
"O que a gente vai precisar é de mais motoristas para o mesmo
caminhão", avaliou Reis. "Ou você faz um esquema de duplas, em que
os dois vão juntos, ou você faz sistema de troca (de motorista) no meio do
caminho. Vai trocando até chegar ao destino."
Estudos da área técnica da NTC mostram que para o transporte de cargas
pesadas, como as do agronegócio, a chamada "lei dos caminhoneiros"
sozinha irá elevar em 28,92 por cento os custos de operação das
transportadoras.
A perda de produtividade da frota, ou o número de viagens realizadas
por mês, vai cair em mais de um terço.
"Tem caminhão parado porque a empresa comprou caminhão, mas não
achou motorista", disse Reis.
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Fonte.: Reuters
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