A
implantação do Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos
(Siniav), prevista para janeiro do ano que vem, divide opiniões entre
especialistas no setor. Para alguns, a instalação de um dispositivo
eletrônico em toda a frota rodoviária em circulação no país representa
invasão de privacidade. Para outros, o rastreamento, que inclui informações
sobre o deslocamento dos veículos em tempo real, aumenta a segurança e
facilita o ordenamento do tráfego de pessoas e de cargas no território
brasileiro.
Entre
os contrários à medida está a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que
pretende ajuizar ação direta de inconstitucionalidade (Adin) no Supremo
Tribunal Federal para contestar a instituição do sistema. Segundo o relator
da matéria no Conselho Federal da OAB, Carlos Roberto Siqueira Castro,
conhecer a exata localização do veículo de uma pessoa fere o direito
constitucional à garantia de privacidade dos cidadãos.
Já o
professor de direito constitucional da Universidade Católica de Pernambuco
Marcelo Labanca sustenta que o controle, da maneira como está sendo proposto,
não é excessivo, nem invade a esfera da privacidade. “A medida não viola o
direito de privacidade do cidadão. Isso ocorreria se os chips fossem
implantados nas pessoas para monitorá-las. Se o carro A ou B está em um
local, isso não significa que a pessoa X ou Y esteja lá também. Os veículos
devem ser monitorados, pois não há privacidade para o cidadão usar o carro
como queira. É necessário haver controle do trânsito e de seus veículos por
parte do Estado”, diz Labanca.
O
professor alerta, no entanto, que deve haver confidencialidade dos dados. As
informações que ficarão armazenadas no dispositivo são: número de série do
chip, identificação da placa, categoria, espécie e tipo do veículo. “O que
não pode é o Estado usar esses dados para divulgação individual a terceiros.
Os dados devem ser preservados para utilização nos fins propostos.”
Celso
Arruda, professor de segurança veicular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
acredita que o sistema trará uma contribuição “muito positiva” em termos de
controle patrimonial, na medida em que facilitará e agilizará, por exemplo, a
identificação e a recuperação de automóveis furtados. Ele lamenta, no
entanto, que o Siniav não inclua o controle da inspeção veicular. “É um
sistema interessante, mas incompleto, porque não prevê o controle da inspeção
dos itens de segurança dos veículos, como pneus, freios e suspensão, que
devem estar em bom estado de conservação. Veículos em condições precárias vão
continuar circulando no país, infelizmente, e provocando acidentes.”
Segundo
Arruda, embora não existam no Brasil levantamentos específicos relacionando o
número de acidentes em estradas e rodovias causados por veículos em condições
inadequadas, sabe-se que ele é “muito significativo”. “Os números não são
identificados, mas sabemos que a má preservação do veículo é uma causa
importante de acidentes que provocam a morte ou a mutilação de pessoas."
De
acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, que financiou o
desenvolvimento do sistema juntamente com o Ministério das Cidades, a
tecnologia usada prevê a confidencialidade dos dados relacionados aos
proprietários dos veículos. Além disso, o protocolo de segurança de todas as
informações contidas no sistema é baseado em chaves de proteção extremamente
modernas.
O
Ministério das Cidades reforçou, por meio de sua assessoria de imprensa, que
o protocolo de comunicação adotado é “padrão, sigiloso e seguro e de
propriedade da União”. As informações serão fornecidas às entidades
licenciadas somente mediante assinatura de termo de confidencialidade.
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Fonte.:
Agência Brasil
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