O
investimento na infraestrutura “fora dos portos”, em acessos rodoviários e
ferroviários, é uma das principais medidas para que seja garantida a expansão
do transporte de cargas por contêineres, analisou o presidente da Federação
Nacional dos Operadores Portuários (Fenop), Mauro Salgado.
A
observação está ligada ao fato de que as caixas metálicas são as que demandam
uma logística mais sofisticada, com a utilização de caminhões e terminais
retroportuários.
Para
Salgado, que também é o diretor administrativo-comercial da Santos Brasil,
grupo que explora, entre outras instalações portuárias, o Terminal de
Contêineres (Tecon) de Santos, com a aplicação de recursos nessa
infraestrutura, será possível para o País crescer no segmento de contêineres na
proporção de um para três – ou seja, para cada 2% de incremento no PIB (Produto
Interno Bruto), um aumento de 6% na movimentação dos contêineres. No mundo, o
transporte por cofres cresce o dobro do PIB.
E,
segundo o executivo, o Governo começou a entender essa necessidade. Uma
demonstração foi a criação do Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP),
contratado pela Secretaria de Portos (SEP) e elaborado pela Universidade de
Santa Catarina. “Do montante de dinheiro que deve ser gasto para que os portos
atendam tudo que o País precisa até 2030, 65% será aplicado fora dos portos e
35% nos portos”, disse.
Porém,
para que esses investimentos funcionem, o diretor acredita que o grande dever
de casa é fazer com que a SEP e o Ministério dos Transportes consigam trabalhar
juntos. Ambos atuarão em parceria no Plano Nacional de Logística Integrada,
originado a partir do PNLP. “Temos preocupação de que hoje isso ainda não
esteja funcionando bem”, disse.
Ao fazer
uma análise da movimentação de contêineres nos portos brasileiros, Salgado
destacou a existência de problemas em dois estados, onde o Governo precisará
tomar providências: Paraná e Bahia. “O Governo ficou parado durante muito tempo.
Não tomou as providências necessárias para que a oferta acompanhasse a demanda
nessas regiões. O que falta é oferta de capacidade para contêineres”, afirmou.
Em
relação a Santos, o executivo afirmou que o Terminal de Contêineres (Tecon),
operado na Margem Esquerda (Guarujá), continua trabalhando abaixo de sua
capacidade, com cerca de 1,5 milhão de TEUs (medida equivalente a um contêiner
de 20 pés) por ano. A capacidade total é de 2 milhões de TEUs anuais.
De acordo
com Salgado, a tendência é que o cenário continuará o mesmo, apesar da entrada
em funcionamento, no próximo ano, dos empreendimentos da Brasil Terminal
Portuário (BTP) e da Embraport, ambos em construção no cais santista.
“Haverá,
sim, uma redistribui-ção de cargas”, enfatizou o empresário, prevendo ainda a
migração de mercadorias de outras regiões – sobretudo do Espírito Santo, com o
fim da guerra fiscal (unificação do ICMS). “Se fala hoje em uma migração de 10%
do total movimentado por Santos, cerca de 33 mil TEUs”, explicou, referindo-se
às cargas que deverão vir para o cais santista.
Sobre a
construção dos dois novos terminais, que serão concorrentes do Tecon, Salgado
se mostrou otimista. “Sempre estamos preocupados com a concorrência porque
queremos ser os melhores. Mas a pior situação é você ter pouca capacidade no
Porto, porque aí a carga migra do porto e trazê-la de volta é muito difícil,
ainda mais se o outro lugar está funcionando”, observou.
Para o
executivo, a BTP e a Embraport aparecem em um momento decisivo, pois, sem os
novos terminais, o complexo santista teria problemas em cerca de um ou dois
anos. “Eles garantem que a carga vai continuar sendo do Porto. Um estudo da
Codesp apontou que, até 2022, com os terminais, não haverá falta de capacidade
para contêineres em Santos”.
Fonte.: A Tribuna