Mais de 80% dos agentes marítimos entrevistados pela Pesquisa CNT do
Transporte Marítimo 2012 apontam o excesso de tributação e burocracia como os
principais entraves do setor. Para as empresas que atuam diretamente nos
portos nacionais, esses problemas são mais relevantes do que os gargalos de
infraestrutura. Esta é uma das questões apontadas pela terceira edição do
estudo, que foi apresentado na quarta-feira (12) na sede da Confederação
Nacional do Transporte, em Brasília.
De acordo com o presidente da CNT, senador Clésio Andrade, os portos
ainda são uma das principais barreiras do transporte no país. “Além de
ampliar os investimentos em infraestrutura, é preciso modernizar os trâmites
burocráticos. Portos mais eficientes dinamizam as cadeias produtivas e
permitem maior competitividade aos nossos produtos no mercado internacional”,
avalia.
Este ano, a principal novidade foi a perspectiva dos 212 agentes
marítimos. Eles foram consultados para avaliar as condições operacionais do
transporte marítimo, uma vez que vivenciam o dia a dia dos portos. Além da
tributação e burocracia, o elevado custo tarifário foi apontado por 43,9% dos
entrevistados como um problema muito grave.
Para o diretor executivo da CNT, Bruno Batista, esses altos custos são
resultado dos baixos investimentos aplicados nos portos na última década.
“Entre 2002 e 2012, o Governo Federal investiu apenas 3,1 bilhões. Esse
montante é muito pequeno e não altera as condições de deficiência
apresentadas hoje. No programa anunciado na semana passada [o Plano Integrado
de Logística], o Governo afirmou que pretende investir R$ 60,6 bilhões no
setor até 2017. Não ficou claro se esses recursos serão públicos ou privados,
mas, de fato, será um grande desafio para o governo conseguir cumprir com este
investimento em um período tão curto”, ressalta.
Porto Sem Papel
Tido pelo Governo como alternativa para a redução da burocracia nos
terminais marítimos, o programa Porto Sem Papel também foi avaliado pelos
agentes. Apesar dos esforços em concentrar os documentos em um único ambiente
virtual, na prática, a realidade é outra.
A maioria dos agentes (57,5%) acredita que o programa não trouxe mais
celeridade nas autorizações dos órgãos anuentes. Pelo contrário, 86,1% dos
entrevistados informaram que houve aumento do volume de trabalho, já que os
procedimentos tradicionais continuam sendo realizados pelas agências.
“Os órgãos continuam exigindo o papel, o que faz com que o tempo de
trabalho chegue até quatro horas. Como não há uma padronização dos
procedimentos no Brasil, cada porto atua de uma maneira. Será preciso que a
Presidência da República, a Casa Civil, instituam definitivamente a extinção
do papel. Esperamos que com isso nós consigamos tirar o poder do carimbo dos
servidores que atuam nos órgãos anuentes”, explica o vice-presidente da
Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar), Waldemar
Rocha Júnior.
Acessos aos terminais
Em função da relevância da intermodalidade, os acessos rodoviários e
ferroviários aos terminais portuários também foram abordados. As ligações por
rodovias foram consideradas adequadas por apenas 25,9% dos entrevistados, o
que representa um decréscimo de 22,1%, quando comparado aos resultados da
Pesquisa Aquaviária CNT 2006. Na consulta anterior, 48% dos entrevistados
classificaram esses acessos como adequados.
Além disso, mais da metade dos agentes marítimos (61,3%) julgaram os
acessos rodoviários como inadequados, resultando em um acréscimo de 10% na
opinião dos entrevistados, quando relacionado aos dados da pesquisa de 2006.
Com relação aos acessos ferroviários, a falta de infraestrutura para
embarque e desembarque de carga foi o principal problema identificado,
concentrando 33,7% das opiniões. Acessos ferroviários em precário estado de
conservação foram citados por 20,2% dos agentes marítimos.
“Quando pensamos em portos, temos que pensá-los em dois sentidos:
interna e externamente. As cidades, na grande maioria das vezes, vivem em
função dos portos. Se você não tiver uma grande área operacional, com
estacionamento para caminhões, com infraestrutura de retroárea, com acessos
rápidos aos portos, por rodovias e ferrovias, você estrangula a cidade.
Felizmente, isso está começando a ser uma preocupação no Brasil”, ressaltou o
vice-presidente da CNT e presidente da Fenavega, Meton Soares – referindo também
ao Plano Integrado de Logística.
Outros dados
Apesar de todos os problemas, o Brasil pode ser considerado um país
privilegiado para o desenvolvimento da atividade, por possuir uma faixa
litorânea com 7.367 km de extensão, com enorme potencial para a utilização do
transporte marítimo de cargas e passageiros. Em 2011, 95,9% do volume total
de cargas exportado passaram pelos portos nacionais.
Na Pesquisa CNT do Transporte Marítimo 2012? também estão disponíveis
dados sobre a movimentação de cargas no setor em 2011 e as informações mais
relevantes sobre a operação nos 13 principais portos marítimos do país em
termos de movimentação - Santos (SP), Itaguaí (RJ), Paranaguá (PR), Rio
Grande (RS), Vila do Conde (PA), Itaqui (MA), Suape (PE), São Francisco do Sul
(SC), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), Aratu (BA), Itajaí (SC), e Fortaleza
(CE).
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Fonte.: Midia News
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