terça-feira, 29 de maio de 2012

Receptadores de caminhão roubado estão na mira do Deic


Um homem foi acusado de receptar uma serra e uma furadeira pertencentes ao lote do caminhão com ferramentas elétricas furtado neste sábado. Agentes da 4ª Delegacia de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), prenderam em Vicente de Carvalho ainda identificaram parcialmente outro suspeito de receptação.

Também caminhoneiro, Reginaldo Moura da Silva, de 34 anos, estava com o seu veículo em uma oficina na Rua Orlando Silva, no Jardim Boa Esperança, onde os agentes compareceram. Acondicionadas ainda nas caixas originais, as ferramentas elétricas foram achadas dentro do caminhão.

Questionado sobre a origem dos equipamentos da Black&Decker, Reginaldo disse que os comprou de um homem apelidado por João Cabelo, indicando um galpão na Rua Manoel Otero Rodrigues, também em Vicente de Carvalho, onde ele poderia ser localizado.

João Cabelo não estava nesse endereço, mas lá os policiais do Deic recuperaram 1.669 furadeiras, 919 serras e 60 lixadeiras elétricas. As máquinas estavam nas respectivas caixas, fazem parte da carga supostamente tomada de assalto e se encontravam dentro de um contêiner de 40 pés.

O delegado Amadeu Ricardo dos Santos, da delegacia do Deic, autuou Reginaldo em flagrante por receptação. Porém, esse acusado pôde pagar fiança de R$ 3.110,00 para responder ao crime em liberdade.

Policiais da DIG de Santos e do Deic dão continuidade às investigações. Eles tentam identificar João Cabelo e as pessoas que participaram da trama armada pelo motorista João Ferraz. Na hipótese de o grupo estar envolvido em outros casos semelhantes, não está descartado o indiciamento dos acusados também pelo crime de formação de quadrilha.

O caso

Após comparecer à delegacia para comunicar o seu sequestro e o roubo do seu caminhão e da valiosa carga de ferramentas elétricas que transportava, um caminhoneiro foi desmascarado pelas contradições detectadas em sua versão.

Afastada a condição inicial de vítima, restou ao caminhoneiro João Crisóstomo Figueira Ferraz, de 48 anos, por enquanto, o indiciamento em inquérito por furto qualificado e falsa comunicação de crime, conforme informou o delegado Marcelo Gonçalves da Silva.
Responsável pelo Setor de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos, Marcelo afirma que não é o primeiro caso descoberto de envolvimento do próprio caminhoneiro no roubo supostamente cometido contra o motorista.

“Não por acaso, nesses episódios as vítimas sempre estão com a chave dos veículos que alegam terem sido roubados”, comenta o delegado. João Ferraz disse que localizou depois o caminhão abandonado com as portas destravadas. Segundo ele, a chave estava próxima, jogada no chão.

“Todas as informações dadas preliminarmente no boletim de ocorrência são checadas. Confrontamos esses dados com os relatos posteriores da própria pessoa que se diz vítima e com as versões de eventuais testemunhas”, adverte o chefe dos investigadores, Marcelo Canuto.

No caso específico de João Ferraz, para complicar a sua situação, até o relato de sua mulher o deixou em situação embaraçosa. Ele contou ter recebido telefonema da Delegacia de Cubatão informando-o que o veículo roubado fora achado naquela cidade, sob um viaduto da Vila Elizabeth.

Valor dobraria com incidência tributária

O valor da carga de ferramentas da Black&Decker declarado no Documento de Transporte Aduaneiro (DTA) é de R$ 272.213,46. Porém, após a incidência de tributos e outros custos, como o de transporte, essa mercadoria seria posta à venda no País por, pelo menos, R$ 500 mil.

Segundo o inspetor de sinistros da companhia seguradora Pamcary, Éderson da Silva Araújo, os produtos recuperados em Vicente de Carvalho correspondem apenas a cerca de 30% da carga desviada. Ele acredita que é provável o restante do lote ainda estar no Distrito de Guarujá.

“Denúncias anônimas à polícia são importantes para auxiliá-la na recuperação das ferramentas. Aparentemente, os envolvidos no furto não tinham um receptador específico e dividiram o carregamento em lotes para oferecê-lo a possíveis interessados”, avalia Araújo.

O inspetor de sinistros afirma que a seguradora realiza um trabalho de apoio às investigações, repassando informações recebidas e colocando à disposição todo o seu aparato tecnológico. Segundo ele, a repressão policial deve ter o seu foco voltado aos receptadores, “porque eles são os principais fomentadores dos furtos e roubos de carga”.

Destino: Uberaba

João Ferraz foi contratado por uma transportadora para fazer um frete de ferramentas importadas da Black&Decker no último dia 19 de janeiro. A viagem teve início no Km 38 da Rodovia dos Imigrantes e o destino era o porto seco de Uberaba (MG), onde a mercadoria seria nacionalizada. A carga chegou ao Brasil pelo Porto de Santos.

Após não conseguir mais contatos telefônicos com o motorista, a transportadora responsável pelo frete comunicou à polícia o seu desaparecimento, informando que o sistema de rastreamento do veículo por via satélite acusou o seu último sinal no Km 410 da Rodovia Anhanguera, em Ribeirão Preto, na madrugada do dia 20.

No dia seguinte, a suposta vítima compareceu à Delegacia de Cubatão e relatou que fora rendida em um posto de combustíveis situado na Rodovia dos Bandeirantes, na região de Campinas, onde parou para efetuar a regulagem dos freios, por volta das 22h30 de 19 de janeiro.

Três homens a obrigaram a deitar na cama da cabine do caminhão e circularam com o veículo por aproxidamente oito horas. Depois, a passaram para outro veículo e a levaram a um matagal, onde fora mantida em cárcere privado até o início da madrugada de 21 de janeiro.

O motorista percebeu que o cativeiro ficava às margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, em Cubatão, somente após ser libertado e sair sozinho da mata, conforme alegou posteriormente na Delegacia de Cubatão, onde foi registrado o caso de sequestro e roubo de veículo e carga.

Fonte: A Tribuna