O crescimento desordenado de São Paulo teve reflexo na mobilidade
urbana e nos congestionamentos. Para especialistas, a criação de zonas mistas
seria uma forma de diminuir os deslocamentos na cidade e colaborar para a
diminuição do trânsito.
Apesar de o Centro concentrar 17,1% dos empregos da cidade, menos de
4% da população da capital mora na região. Por isso, a Prefeitura de São
Paulo quer que prédios residenciais sejam construídos onde já existe bastante
emprego e também quer levar emprego para regiões onde moram muitas pessoas -
as chamadas zonas mistas.
Para organizar o crescimento urbano existe a Lei de Zoneamento, que
determina quantos prédios uma rua pode ter, em que regiões o comércio por se
instalar. Mas segundo especialistas, muitos ponto precisam ser revistos.
“Nossa Lei de Zoneamento tem muitos aspectos que precisam ser
revistos, como por exemplo, a dificuldade de se aprovar um condomínio com uso
misto, com comércio embaixo e residência em cima”, diz o professor de
arquitetura da USP Renato Cymbalista.
Em entrevista ao Bom Dia São Paulo desta quarta-feira (7), o
secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, disse
que uma das providências da Prefeitura é a revisão da Lei do Zoneamento e do
Plano Diretor, que regula o planejamento da cidade.
“Estamos revendo o Plano Diretor, o zoneamento e outras leis, que a
gente chama de marco regulatório, que é um instrumento que o poder público
tem para conduzir e orquestrar o desenvolvimento da cidade. Queremos
incentivar e exigir que o crescimento da cidade passe a ser feito numa
relação direta com esses eixos de mobilidade existentes e futuros que devem
ser construídos num ritmo mais acelerado”.
A Prefeitura diz que pretende levar emprego para regiões populosas,
como a Zona Leste. “A região de Zona Leste é uma região prioritária que
precisa receber incentivo dos mais diversos para de fato oferecer mais
emprego, mas não é a única estratégia. Temo que ter uma estratégia para a
totalidade da cidade e isso vai se dar a partir do fortalecimento de
investimento, no fortalecimento de uma rede bastante abrangente de transporte
público de média capacidade”.
Outra preocupação é com a mobilidade do pedestre. “Temos vários
extratos porque a cidade é muito complexa e um deles é uma rede de calçadas e
de ciclovias qualificadas que sirvam de alimentadores, ou seja, que leve a
pessoa da casa dela para o trabalho ou para escola, mas, sobretudo também
para os meios de transporte, que vão levar esta pessoa para o restante da
cidade”.
Microcidades
Para o professor da USP Nicolau Gualda, o aumento na oferta de Metrô,
trem e ônibus, é um complemento e não uma solução. O grande desafio do
governo, na opinião do professor, é encurtar as distâncias.
Uma das soluções apontadas por ele seria a criação de microcidades. A
metrópole de 11 milhões de habitantes seria fatiada em 11 pedaços, cada um
com 1 milhão de habitantes. Os pedaços da cidade seriam autossuficientes, com
moradias, mas também hospitais, escolas, opções de lazer e, principalmente,
empregos. Atravessar a cidade seria uma opção e não uma necessidade como é
hoje.
“É preciso mudar esse conceito, esse paradigma levando emprego para as
regiões onde hoje há excesso de moradia, e levando moradia pras regiões onde
hoje há excesso de emprego. Não vejo outra saída para São Paulo no longo
prazo senão uma reorganização territorial de toda a cidade, de toda a região
metropolitana”, diz Gualda.
Gualda acredita que a solução está na criação de sub-cidades
autossuficientes. “Acredito que a base para você criar sub-cidades na cidade
de São Paulo seria você dar mais autonomia para as subprefeituras, mais
autonomia e mais incentivo, para virarem realmente prefeituras e criarem
realmente sub-cidades”.
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