Quase 60% das multas leves e médias aplicadas em Sorocaba em 2012 e
nos quatro primeiros meses deste ano podem ser convertidas em advertência a partir
de 1º de julho, quando entra em vigor resolução do Conselho Nacional de
Trânsito (Contran), que obriga os municípios a fazerem a mudança. Em resposta
ao Cruzeiro do Sul, a Urbes, empresa pública que gerencia o setor,
interpreta, no entanto, que a norma depende de avaliação da autoridade
competente "para determinar se é a mais educativa para a situação".
Ou seja, na cidade, a conversão corre o risco de não ser implementada.
A situação pode provocar uma corrida às delegacias de trânsito e,
fatalmente, deverá desencadear onda de questionamentos judiciais, prevê o
advogado e estudioso do assunto, Gilberto Antonio Faria Dias. Ele explica
que, na realidade, a regra já vale desde que o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB) foi promulgado em 1997. "Lá estava e está especificado que as
infrações dessa natureza deveriam ser punidas com advertência escrita. O
casuísmo dos governos, porém, deu outro entendimento à disposição, já que, na
prática, adotá-la representaria uma perda considerável da receita arrecadada.
Por isso, a pretexto de que faltava regulamentar, ninguém a cumpriu",
analisou.
Infrações leves e médias, explica Faria, são aquelas que, em razão do
seu menor potencial ofensivo, não impõem àqueles que as cometem sanções
financeiras. Alguns exemplos: quando o condutor não respeita a distância de
cinco metros da esquina para estacionar, usa a buzina depois das 22h de modo
a causar perturbação, não acende o farol adequadamente ou passa por poça
d"água intencionalmente para molhar o pedestre.
Para se ter ideia da dimensão do quadro, o município contabilizou, em
2012, 128,3 mil autuações; até abril deste ano, elas somam 55,7 mil, mais de
40% do total do exercício anterior. De acordo com a própria Urbes, em 2012,
66% das infrações apuradas foram leves ou médias (algo em torno de 77 mil); o
índice deste primeiro quadrimestre foi de 64%, o correspondente a cerca de 34
mil. Em relação aos recursos encaminhados pelos autuados, eles chegaram a
2.338 em 2012 e a 818 nos quatro primeiros meses de 2013.
Num giro por escritórios especializados em recorrer
administrativamente de multas, a reportagem apurou que a margem de
acolhimento das medidas pela Junta Administrativa de Recursos de Infrações
(Jari) fica abaixo de 5%. Quem já amargou o drama de ser multado, reclama. O
aposentado Josué Cordeiro aguarda a resposta de um recurso contra autuação
aplicada. "Eu não acho certo multar sem critério, por isso recorri. Para
mim, essa é uma forma de tirar dinheiro do povo. Se a lei mudar vou querer
receber o que paguei indevidamente de volta e com correção", disse.
Como ele, Maria Villegas também aguarda o desfecho do seu caso. A
esteticista também foi multada. "É um absurdo passar por esse
constrangimento. Não existe uma orientação, uma campanha que esclareça, nada.
Se o que eu fiz merece advertência, por que tenho de pagar em dinheiro? Está
errado! Vou insistir até onde puder para reverter a situação, já que não está
direito. É preciso ficar atento para não ser prejudicado".
Josué e Maria têm chances de obter decisão favorável, já que não
possuem anotações em seus prontuários nos últimos doze meses. Essa é a
condição para que a multa seja transformada em advertência. Para comprovar
isso, orienta o advogado Gilberto Faria, o interessado precisa obter um
extrato fornecido pela Ciretran. Ali, estará anotada sua situação.
Importante: se a multa tiver sido paga e o processo administrativo concluído,
não há mais o que fazer.
A demanda nas delegacias deverá aumentar. O titular do órgão na
cidade, José Olimpio Pretti, disse que ainda não foi informado das mudanças
pelo Detran. "Embora o Contran tenha regulamentado a lei, nós dependemos
do que o Detran, em nível estadual, deliberar. Estamos tranquilos, no aguardo
de orientação", esclareceu. A Urbes também aponta como providência necessária
para cumprir a regulamentação que o sistema de Registro Nacional de Carteira
de Habilitação (Renach) esteja devidamente integrado no país.
"O Prodesp
é quem cuida disso e deverá encaminhar alguma solução nas próximas
semanas", reforçou o delegado.
Apesar da confusão que envolve a questão, a Urbes respondeu que não
existe previsão para campanha de esclarecimento e conscientização dos
motoristas em relação aos novos procedimentos. Da mesma forma, a empresa não
tem projetos para treinar os agentes de trânsito que continuarão a fazer
autuações normalmente, mesmo que a infração constatada seja leve ou média. No
município vigora lei, de autoria do vereador Francisco França (PT) que dispõe
sobre a obrigatoriedade de divulgação da conversão de multas em advertência.
A norma é cumprida "por parte do órgão executivo de trânsito", diz
a Urbes. As dúvidas dos interessados podem ser esclarecidas no site
www.urbes.com.br, no campo "Fale Conosco".
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Fonte.: Cruzeiro do Sul
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