Os cerca
de 40 viadutos do Grande ABC sob responsabilidade das prefeituras sofrem com a
falta de manutenção preventiva e a degradação decorrente do excesso de
veículos. A equipe do Diário percorreu nesta semana os elevados da região que
registram circulação mais intensa. O engenheiro Luiz Sérgio Coelho, professor
da FEI (Fundação Educacional Inaciana), acompanhou a reportagem e avaliou as
condições das vias.
Entre os
principais problemas estruturais apontados pelo especialista estão o
afastamento das vigas, infiltração, buracos e ondulações, além de falta de
limpeza e da desobstrução de bueiros. "Quando o lixo entope as bocas de
lobo, a água irá procurar outros caminhos para o escoamento. Aí surgem as
infiltrações", explica Coelho.
Outra
irregularidade apontada é a presença de vegetação em vãos existentes. "As
raízes podem forçar a estrutura, provocando rachaduras e a separação das
vigas", acrescenta.
Os dois
viadutos visitados no Centro de Mauá apresentam problemas. No Mário Covas, as
juntas de dilatação - encontro entre o pilar e a viga - estão afastadas. O
ideal, segundo Coelho, é que a distância entre as placas seja de, no máximo,
dois centímetros. "Em alguns pontos, foi colocada argamassa sobre o vão.
Isso diminui o desconforto para os motoristas, mas não tem efeito nenhum."
De acordo com Coelho, as juntas se afastam por conta do excesso de peso e da
vibração.
No
Juscelino Kubitschek, não há guard rail central. A divisão entre as pistas foi
feita de forma improvisada, com blocos de concreto. Parte da proteção externa
caiu. Vergalhões de ferro são usados como ‘parede'. O acesso para pedestres é
precário. Foi feita escada de madeira no início do elevado, que oferece riscos
aos transeuntes. Manchas pretas nas lajes indicam a presença de infiltração.
A
Prefeitura de Mauá informa que faz a limpeza e a manutenção preventiva
periodicamente. A administração diz que "sinais de infiltração não
interferem nas estruturas dos viadutos".
Outro
elevado em más condições é o Independência, em São Caetano, que liga o Centro
ao bairro Fundação. O viaduto apresenta ondulações, o que, segundo o
engenheiro, já é um sinal de que a estrutura está comprometida. As juntas de
dilatação também estão com distância maior do que a recomendada, e a limpeza
dos bueiros não é adequada. A Prefeitura informa que equipe da Secretaria de
Serviços Urbanos esteve no local na sexta-feira e diz não ter encontrado as
observações feitas pelo professor. A Pasta informa que a limpeza é feita
diariamente e a manutenção corretiva é executada conforme a necessidade.
Em
diversos locais, é comum sentir a via balançar durante a passagem de veículos
pesados. Coelho salienta que a sensação, apesar de comum, não deveria ser
experimentada. "É uma indicação de que a viga já está flexível."
Para
reformar os elevados, o especialista recomenda a interdição total. "É
preciso elevar novamente as vigas, trocar o aparelho de apoio sobre os pilares
e reforçar a proteção." Coelho ressalta que as vias têm de ser adaptadas
para aguentar maior quantidade de peso. "Esses viadutos são antigos. Na
época em que foram construídos, as cargas que passavam eram bem menores."
Especialista
aponta falhas em pista recém reformada
Reformado
em maio, o Viaduto Castelo Branco, em Santo André, já apresenta problemas
estruturais. O engenheiro Luiz Sérgio Coelho, professor da FEI (Fundação
Educacional Inaciana) aponta para o desgaste nas juntas de dilatação e sinais
já avançados de infiltração, principalmente nos pilares.
Outra
observação relevante é o desnível entre as vigas. A Prefeitura informa que,
durante as obras recentes, eliminou buraco na pista sentido bairro. O elevado
fica ao lado do Terminal Rodoviário do município.
"O
fato de o viaduto ter sido pintado e pavimentado, não interfere em
absolutamente nada na estrutura. Os problemas persistem", critica o
professor.
A equipe
do Diário também passou pelo Viaduto Pedro Dell'Antônia, no Centro, que
apresenta situação melhor. "Os vãos entre as vigas estão adequados e não
há lixo nas laterais", observa Coelho. O elevado, segundo a administração
municipal, passou por grande intervenção em 2006, quando foram feitas
"obras de recuperação das juntas de dilatação e manutenção geral em
pilares".
Em São
Bernardo, as principais falhas apontadas são relacionadas à limpeza. No Viaduto
José Fernando Medina Braga, no Centro, as bocas de lobo estavam entupidas. No
Viaduto Rotary, inaugurado em 2010, também há sinais de sujeira e início de
infiltração. A Prefeitura foi procurada durante a semana, mas não se
manifestou.
Prefeituras
ignoram sinalização de altura das passagens
A maioria
dos viadutos visitados pela equipe do Diário não tem placas para sinalizar a
altura da passagem em relação ao solo. O engenheiro Luiz Sérgio Coelho alerta
que, apesar de o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) não obrigar a instalação
das placas, é recomendável que haja a indicação. "Se um motorista de um
caminhão com 4,5 metros de altura ver que o viaduto tem apenas quatro metros,
não passará por lá", explica o professor da FEI (Fundação Educacional
Inaciana).
O
especialista aponta para riscos, como o de o veículo ficar entalado sob o
elevado. "Isso vai danificar ainda mais as estruturas, que já estão
ruins." Em algumas das vias da região, a parte de baixo das vigas está
arranhada, o que indica que já houve pequenos acidentes com caminhões altos.
Entre os
viadutos percorridos pela reportagem, apenas o Juscelino Kubitschek e o Mário
Covas, ambos em Mauá, apresentavam o limite de altura.
A
Prefeitura de São Caetano não se manifestou quanto à falta de placas. O
Executivo de Santo André informa que "prioriza a colocação de placas em
pontes a fim de melhorar as condições de segurança" e a indicação de
altura em viadutos onde já foram registrados acidentes por esse motivo. São
Bernardo não respondeu ao Diário.
Fonte: Diário do Grande ABC