Enquanto
os carros alcançaram recorde de vendas no Brasil, o segmento de caminhões vive
um ano atípico. Os emplacamentos caíram 30,89% em agosto, na comparação com um
ano atrás, de acordo com dados da Federação Nacional de Distribuição de
Veículos Automotores (Fenabrave) divulgados na última terça-feira (4). A
previsão da entidade para este ano é de que a venda de caminhões caia 19%, para
139.853 unidades.
O mau ano
para esse segmento também foi destaque na divulgação do Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro no segundo trimestre deste ano – que cresceu 0,4% ante o
trimestre anterior. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
considerou um "freio" no crescimento industrial o setor de máquinas e
equipamentos, o que inclui, pela classificação do instituto, a produção de
caminhões.
O
comércio desse tipo de veículo é considerado um termômetro da produção do país,
já que a maior parte das compras de caminhões é voltada para o transporte do
que as fábricas entregam, da produção agrícola e da construção civil.
Ao falar
sobre 2011, o presidente da Fenabrave, Flavio Meneghetti, lembra o ano em que
as vendas de caminhões tiveram um ritmo além do normal. Isso porque muitos
clientes decidiram antecipar as compras - e, consequentemente, as montadoras
aumentaram o ritmo de produção - para garantir veículos com padrão anterior ao
novo Euro 5, exigido pelo governo brasileiro para motores a diesel a partir de
janeiro deste ano. Em outras palavras, os frotistas quiseram garantir a compra
de veículos mais baratos.
Na
análise da Fenabrave, o que mais afetou o setor de caminhões foi a antecipação
"surpreendente" de compra. "Isso foi o que pesou de verdade, nem
foi o crescimento mais lento do PIB do país", destacou Meneghetti nesta
segunda-feira, ao anunciar os dados do setor de agosto. Na visão da Fenabrave,
o setor tende a se recuperar no próximo ano.
Alta nos
preços e demissões
A
tecnologia, menos poluente, resultou em significativo aumento de preço para os
caminhões. A Ford diz que a alta foi entre 6% e 12%, variando conforme o
modelo. A Iveco fala em 8% a 15% e a Scania, em 10% a 15% de alta, destacando
que "foi a líder dos emplacamentos de caminhões pesados Euro 5 de janeiro
a julho de 2012", com 3.275 unidades, "volume que representou quase
35% do total de 9.275 unidades Euro 5 emplacadas pelo mercado no Registro
Nacional de Veículos Automotores (Renavam)".
"A
maioria dos frotistas antecipou a compra de caminhões entre o fim do ano
passado e início deste ano. As próprias montadoras passaram a produzir mais em
2011 para encher os estoques de produtos 'mais acessíveis'", resume Rebeca
de La Rocque Palis, do IBGE.
Os
emplacamentos no segundo trimestre começaram com a queda de 9,19% em abril,
sobre o mesmo período do ano passado, acentuada para 27,6% em junho, na mesma
comparação. A produção ficou 23,4% abaixo de 2011 em abril e chegou à queda de
55,8% em junho, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea).
O ritmo
menor refletiu nas relações de trabalho. Em julho, a Volvo demitiu 208 de 574
trabalhadores temporários no Paraná "devido à significativa queda nas
vendas nos primeiros meses deste ano". Na última sexta, a Mercedes-Benz
anunciou que pararia a produção em São Bernardo do Campo (SP) por um dia, para
ajuste da produção à demanda. A expectativa da montadora é de que o mercado
brasileiro de veículos comerciais sofra queda de 20% nas vendas deste ano.
Ritmo da
economia também conta
Para o
economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a baixa na produção
de caminhões não pode ser creditada apenas à antecipação das compras. "[O
setor] tem uma característica que é depender da atividade econômica",
destaca. "Acho que a economia atualmente vende essa ideia de incerteza
total."
Alcides
Leite, da Trevisan Escola de Negócios, concorda que o segmento acompanha muito
o crescimento da economia em si e depende da produção industrial, lembrando que
as compras de caminhões, pelo alto valor, são sempre planejadas com bastante
antecedência, diferente da compra de um carro, por exemplo. "É quase um
bem de capital".
Leite
acredita que, com o aumento de investimentos, incentivados pelo governo, o
segmento deve se recuperar em seis meses.
Na última
quarta-feira (29), ao anunciar a prorrogação do IPI para carros, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, também divulgou a decisão do governo de estender para
até o final do ano o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES,
com redução dos juros para a compra de bens de capital e caminhões de 5,5% para
2,5% ao ano.
Renovação
no porto de Santos
O porto
de Santos (SP) receberá o programa inicial para a renovação da frota de
caminhões no país e, assim, estimular a compra de veículos novos, especialmente
por autônomos. O governo estadual prevê financiamento de mil caminhões com taxa
zero para os veículos pesados que circulam no porto. As linhas de financiamento
serão operadas pela Nossa Caixa Desenvolvimento, com recursos de R$ 45 milhões
para equalizar os juros, que seriam de 5,5% ao ano pelo programa
Procaminhoneiro.
De acordo
com Marco Antônio Saltini, vice-presidente da Anfavea e diretor de relações
governamentais e institucionais da MAN Latin America, as reuniões com
fabricantes devem começar neste mês e o pagamento poderá ser dividido em até 96
meses.
Segundo
ele, os donos de caminhões que comprovadamente trabalham no porto poderão
negociar o custo de seus veículos como sucata. Dessa forma, cria-se uma
garantia de que os veículos não continuarão em circulação e nem terão peças
reaproveitadas por desmanches.
Saltini
ressalta que os volumes de caminhões comercializados no país neste ano, ainda
que fiquem abaixo de 2011, são significativos e superam e muito os da década de
1990, que eram em torno de 60 mil.
Para o
executivo, o grande desafio é descobrir de quanto é, de fato, o mercado
brasileiro de caminhões em volumes. "Há caminhões comercializados no fim
do ano passado que seguiram para as implementadoras e foram emplacados apenas
em abril, por exemplo. Ou seja, a queda é ainda maior nos últimos meses. Basta
ver pela baixa de 45% na produção", observou o executivo no último
Congresso da Fenabrave, no mês passado, em São Paulo.
Fonte.:
G1