Três em
cada quatro motoristas que usam a BR-116 são favoráveis ao pagamento de
pedágio, segundo estudo contratado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). Levantamento feito com 47.537 caminhoneiros e
condutores de automóveis mostra que somente 22,2% rejeitam a ideia de
concessão, enquanto o restante dos entrevistados concorda em pagar para
trafegar por uma rodovia em melhores condições.
Em
média, os motoristas estão dispostos a pagar R$ 0,04 para cada quilômetro
rodado, o que sugere pagamento de R$ 32,64 para automóveis transitarem por
toda a extensão da Rio-Bahia, como é conhecido o trecho que corta Minas
ligando os dois estados. O valor é o dobro do cobrado na Fernão Dias (BR-381,
entre BH e São Paulo), onde, por quilômetro, são cobrados R$ 0,02.
Ontem foi realizada em Belo Horizonte a primeira audiência presencial para a
concessão da rodovia. O evento faz parte da Audiência Pública 127, que tem o
objetivo de tornar público e colher sugestões e contribuições aos estudos de
viabilidade técnica e econômica para concessão da BR-116. Pela internet, é
possível fazer contribuições até 21 de setembro. Nos próximos dias, devem ser
disponibilizadas as atualizações dos estudos referentes à BR-040.
As duas
rodovias mineiras devem ser as primeiras concedidas dentro do Plano Nacional
de Logística. A expectativa do governo federal é fazer o leilão das duas em
janeiro e iniciar as obras ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Ao
todo, devem ser investidos R$ 5,67 bilhões nos 25 anos de concessão para
duplicação, manutenção e operação dos 817 quilômetros da Rio-Bahia, sendo a
maior parte nos cinco primeiros anos, período que deve ser feita a duplicação
do trecho.
Como
anunciado pela presidente Dilma Rousseff no lançamento do Plano Nacional de
Logística, as BRs incluídas no pacotão devem estar duplicadas até o quinto
ano de vigência do contrato. No caso da 116, 20% devem estar concluídos em
2014; 45% em 2015; 30% no ano seguinte e o restante até 2017. Assim, a
cobrança começaria em 2014.
O
estudo mostra que o mais rentável seria a construção de oito praças de
pedágio equidistantes. Foram feitas simulações com a implantação de oito a 12
praças. Além do retorno financeiro, o número reduzido de postos de pedágio
também facilita o trânsito de moradores das regiões, que podem percorrer
trechos mais longos sem pagar tarifa. A primeira estaria situada em Medina e,
na sequência, haveria uma a cada 102 quilômetros, em Caraí, Itambacaré,
Governador Valadares, Ubaporanga, São João do Manhuaçu, Muriaé e Além Paraíba.
Tarifa
justa - Entre os condutores de automóveis, a tarifa média ponderada entre os
entrevistados é de R$ 0,04 por quilômetro. Como a BR tem 817 quilômetros de
extensão em Minas e o mesmo estudo mostra que o ideal seria a instalação de
oito praças de pedágio e o valor cobrado deve ser igual para todos os postos,
a tarifa seria de R$ 4,08. No caso de caminhões, eles estariam dispostos a
pagar, em média, R$ 0,149 por quilômetro. Assim, com base no número de eixos,
devem ser estipulados 13 valores de pedágio, variando de R$ 4,08 para
automóvel, caminhonete e furgão a R$ 36,40 para veículos especiais com nove
eixos.
Um carro leve que cruzar a estrada desde o encontro com o Rio até a
divisa baiana terá que pagar R$ 32,64.
No
comparativo com a Fernão Dias, o valor médio pago por quilômetro rodado será
duas vezes maior, o que pode ser justificado pelo fato de a concessionária
contratada para a BR-116 ser obrigada a fazer a obra da rodovia, enquanto, no
caso da BR-381, as melhorias entre BH e São Paulo foram feitas pelo governo
federal, ficando a empresa obrigada a custear apenas a operação e a
manutenção. Sob essa ótica, como a BR-040, a 050 e 262 têm segmentos já
duplicados, a tendência é de que as tarifas das outras BRs incluídas no plano
de concessões sejam mais baratas.
Qualidade
vai compensar preço - Mesmo diante da necessidade de pagar a tarifa de
pedágio, a Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais
(Fetcemg) se diz favorável à concessão diante da incapacidade do governo
federal de investir na duplicação e manutenção das rodovias. “Não vejo
alternativa. Hoje, o país não tem dinheiro para cobrir o desenvolvimento
necessário para se ter um crescimento sustentável”, afirma o presidente da
Fetcemg, Vander Francisco da Costa, que considera razoável o preço sugerido
para o pedágio. “Se for o dobro da Fernão Dias, ainda está barato”, diz.
Na
avaliação do empresário, a duplicação da BR-116 deve provocar uma mudança no
trânsito de caminhões, principalmente aqueles carregados de produtos
industrializados. Costa afirma que, desde a duplicação da Fernão Dias, os
caminhões que partem de São Paulo e Paraná preferem evitar a Rio-Bahia, mesmo
tendo que rodar mais, e a consequência imediata dessa reopção de trajeto deve
ser o desenvolvimento dos municípios situados às margens da BR-116. “Vai
criar condição de desenvolver uma região bastante pobre. Mais infraestrutura
leva a mais atratividade”, afirma o presidente da Fetcemg, que aponta a obra
na BR-116 como a mais importante do pacote de concessões, uma vez que as BRs
040 e 262 já contam com importantes trechos duplicados, enquanto a BR-116 é
de pista simples em toda a sua extensão.
Ele
recorda o efeito que a duplicação da Fernão Dias teve no Sul de Minas, com
aumento de arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), e afirma que por
Minas ter sido contemplada com a duplicação de cinco rodovias, além da BR-381
(trecho entre BH e Governador Valadares), que deve ser reformado pelo
governo, a economia do estado deve ser bastante reforçada.
O
especialista em transporte e trânsito da Universidade Fumec, Márcio Aguiar,
cita outro benefício: a redução do custo do transporte. Por aumentar a
fluidez do transporte de carga, a tendência é que os caminhões consigam
trafegar por um trecho mais longo em um tempo menor, facilitando desde o
transporte de automóveis até o turismo. “É uma rodovia tronco-comercial de
grande importância para o país e seu desenvolvimento atrai mais indústrias
para o entorno”, afirma o professor. Ele faz ainda duas importantes
considerações: “A duplicação vem com atraso de três décadas e a obra da
BR-381 é de importância essencial para os mineiros, principalmente para os
que moram na capital e acessam a Rio-Bahia rumo ao litoral somente depois de
cortar o trecho da Rodovia da Morte até Governador Valadares”.
Além da
melhoria na qualidade do asfalto da rodovia e sua duplicação, a estrada
passará a contar com uma série de equipamentos de segurança, com a instalação
de radares, balanças, câmeras e telefones a cada trecho de um quilômetro.
Haverá também ambulâncias para atendimentos máximos a cada 15 minutos.
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Fonte.:
Estado de Minas
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