Se a
infraestrutura logística de um país ou região é boa, ninguém se lembra que ela
existe. A infraestrutura só costuma ser lembrada quando a falta de planejamento
e de investimentos começa a causar atrasos e prejuízos. Foi o que ocorreu
durante o apagão aéreo de 2006, quando deficiências do transporte aeroviário
eclodiram simultaneamente, levando o caos aos aeroportos brasileiros, e é o que
ocorre agora com o porto de Santos, cujas obras de ampliação e melhoria não
chegaram a tempo de evitar a formação de gargalos nas operações.
Desde
junho, quando o Sindifisco deflagrou a "Operação Maré Vermelha", o
porto foi lembrado muitas vezes nos meios empresariais. A mobilização dos auditores
fiscais da Receita Federal (depois convertida em greve) e de outras categorias
que atuam no desembaraço das cargas, como os fiscais do Ministério da
Agricultura e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
desorganizou os negócios das empresas que dependem de insumos importados e
infernizou a vida de milhares de brasileiros que compram pela internet em sites
do exterior.
Os
problemas do porto, no entanto, seriam pequenos se estivessem restritos à briga
dos auditores por melhores salários, cujo impacto é sentido quase que
exclusivamente nas importações. Muito antes da greve dos servidores federais, o
porto tem causado dores de cabeça aos exportadores. "Está formando-se um
gargalo grande. Por mais que façamos investimento no nosso parque fabril,
continua a dificuldade no escoamento da produção", confirmou à repórter
Carolina Santana o presidente da Tecsis, empresa produtora de pás eólicas que
funciona em Sorocaba desde 1995, Bento Koike ("Tecsis -Para presidente,
Porto de Santos é um "gargalo grande"", 3/9, pág. B1).
A fala de
Koike reverbera uma preocupação recorrente no meio empresarial, que há tempos
reclama das dificuldades de acesso rodoviário ao porto. "A melhoria do
acesso é a decisão mais emergencial", asseverou, em maio último, o diretor
do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), Martin Aron, durante o 7º Encontro de Logística e Transportes,
realizado em São Paulo.
O porto
de Santos é o maior da América Latina. Sua área de influência direta responde
por mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Praticamente um
terço da balança comercial nacional passa por ali. A Companhia Docas do Estado
de São Paulo (Codesp), operadora do porto, juntamente com outras operadoras
privadas, realiza obras de ampliação, com previsão de dobrar a capacidade de
embarque e desembarque até 2013. No entanto, ampliar o porto não basta. É
preciso melhorar as condições dos transportes terrestres e modernizar o acesso
de caminhões até ele.
Em
entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" em janeiro deste ano, o
presidente da Codesp, José Roberto Correia Serra, admitiu que somente 1% das
cargas em contêiner e 10% dos granéis circulam sobre trilhos. Em contrapartida,
o porto recebe diariamente cerca de 14 mil caminhões, dos quais 85% chegam
entre 8h e 18h. "Falta inteligência de agendamento da carga do
porto", admitiu Correia Serra.
Conforme
cálculos de especialistas, um caminhão parado por um ou dois dias pode elevar o
custo do frete em até 15%. A melhoria da malha ferroviária, com a construção de
um ferroanel na região metropolitana de São Paulo (já prometida pelo governo
federal), o controle informatizado de acesso de caminhões e a ampliação dos
quadros de auditores fiscais da Receita são algumas das medidas anunciadas e
que não podem ser postergadas, sob o risco de prejudicar-se o desempenho
econômico de toda uma vasta região.
Fonte.: Jornal Cruzeiro do Sul