Mapear
restrição à circulação de caminhão, indicar rotas alternativas e expor
legislação específica de cada cidade são a pisada inicial no acelerador rumo à
unificação do transporte de carga nos 39 municípios da Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP). O tráfego de caminhão e o impacto provocado pela carga pesada
desconhecem a fronteira territorial, argumenta Luiz José Pedretti, diretor vice-presidente
da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (Emplasa), da Secretaria
de Desenvolvimento Metropolitano.
Representantes
e técnicos do Governo paulista, das prefeituras envolvidas, dos sindicatos de
caminhoneiros e da indústria da região sentaram-se à mesa em busca do caminho
mais viável para manter o abastecimento e a prestação de serviços às cidades
sem comprometer a mobilidade das vias públicas. A primeira reunião da chamada
câmara temática teve o desafio de pensar ações emergenciais para chegar a um
consenso sobre a restrição à circulação de caminhões.
Atualmente,
cada prefeitura define suas próprias regras. A proposta é substituir medidas
isoladas por solução em que a restrição num município não cause impacto ao seu
redor. A regulamentação unificada deverá considerar todo o sistema de
transporte incluindo rodoanel, ferrovia e hidrovia. “Temos de construir solução
para amanhã com que temos hoje. Tem de ser boa para todos e feita com
compreensão mútua dos graves problemas.
É esse o
espaço viário que temos e o número de veículos aumenta a cada dia”, diz
Pedretti. O grupo trabalha em marcha acelerada para estabelecer propostas a
serem expostas na próxima reunião do Conselho de Desenvolvimento da RMSP, no
dia 5 de junho, em São Bernardo do Campo. Na data, os conselheiros avaliarão as
regras consensuais e deliberarão sobre a aprovação. Se aprovadas, valerão para
toda a metrópole. Para estabelecer critérios mínimos para a Região
Metropolitana, a câmera fará reunião semanal.
Desafio
da mobilidade
Mairiporã
restringiu circulação para sobreviver ao tráfego pesado e não parar a cidade,
justifica o chefe de gabinete da prefeitura, Ruy de Freitas. “Caminhão passa
aqui e só deixa as vias destruídas. Acaba com o comércio por onde trafega”.
Avenidas e ruas de Guarulhos se transformaram em estradas, queixa-se o
secretário-adjunto de Transportes do município. “Nossa cidade é só nó e
gargalo. Temos de definir melhor a restrição para que os problemas não migrem
para outros lugares”, opina.
Bernabé
Rodrigues, diretor da Federação dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo
(Fetrabens) e do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens do Estado de
São Paulo (Sindicam), pede a liberação da Marginal Tietê até o término da
construção do Rodoanel. O gerente de planejamento da Companhia de Engenharia de
Tráfego (CET), Luis Gregório, responde que a capital paulista “não tem mais
espaço para caminhão circular livremente.
É
inadmissível este meio de transporte rodar no mesmo horário em que há
deslocamento da população”. Gregório completa dizendo que “é tendência mundial
o transporte de carga circular predominantemente à noite. Lembra estar liberada
a circulação diurna de caminhão das 9 às 17 horas. A restrição é necessária e
eficiente para reduzir o tráfego e melhorar a fluidez nas vias, emendou o
secretário de transporte de Osasco.
Em Osasco há, também, pedágio, mas o
caminhoneiro autônomo desvia para não pagar (o frete do autônomo não inclui a
taxa).
Passagem
e abastecimento
“O
percurso à noite é mais rápido e barato”, reforça Ribeiro. Salienta que
caminhão grande (carretas e 16 metros ou mais) tem dificuldade em circular nas
vias da cidade por não ser o veículo adequado à operação a que se destina. Nem
há espaço de manobra. Esbarram nas guias e param ruas por longos períodos”.
Completa dizendo que o ideal para abastecer a cidade durante o dia são os
Veículos Urbanos de Carga (VUC) e caminhões menores, modelo três quartos.
Outro
dado: 60% do tráfego de caminhão em São Paulo é de passagem e 40% se destina ao
abastecimento, informa o assessor de planejamento de transportes da Secretaria
de Logística e Transporte, Milton Xavier. Gregório informa que será feita
pesquisa sobre origem e destino de cargas que passam pela capital vindas de 11
rodovias. A previsão é começar este ano e concluir em 14 meses. Com os dados em
mãos, haverá restrição ao transporte de passagem.
O
Consórcio Intermunicipal do Grande ABC também tem proposta de “inibir o
transporte de passagem pela malha urbana do município”, informa a arquiteta
Sandra Malvese. O consórcio, que representa sete cidades, iniciou a restrição
em cinco municípios, mas suspendeu a decisão antes da regulamentação. A
suspensão ocorreu em reunião com o setor produtivo e por consenso das cidades,
comenta a arquiteta. “Vamos ampliar a conversa e esperamos a decisão do
Conselho a respeito da proibição”. Correção de rota
Por outro
lado, Malvese avalia alternativas para amenizar o impacto dos veículos pesados
no trânsito e os congestionamentos. A diretora de engenharia de tráfego de São
Bernardo do Campo, Fernanda Espel, comenta os altíssimos índices de acidentes
com caminhão e a transformação da cidade em fluxo de passagem (maioria em
direção ao Porto de Santos).
Espel
informa estar em andamento obra para diminuir o tráfego no centro da cidade. O
diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região
(SetCesp), Altamir Cabral, critica a circulação noturna de carga. Diz que
prejudica a competitividade de indústria localizada em área de restrição, traz
risco à segurança e aumenta custos. O vice-presidente do Setcesp, Manoel Sousa
Lima, fala da necessidade de distinguir caminhão de passagem do de
abastecimento. Propõe “retirar os dois milhões de veículos irregulares de
circulação”.
Mapa
metropolitano
Estudo
preliminar da Emplasa mapeia viário mostrando as vias com restrição em São
Paulo, Região do ABC, Osasco, Taboão da Serra, Itapecerica da Serra. O estudo
também contempla rotas alternativas, mas ainda está incompleto. Para ficar pronto
ainda depende de informações de todas as 39 cidades.
A
Secretaria dos Transportes vai fazer simulações no sistema viário metropolitano
e também prepara pesquisa sobre origem e destino das cargas em parceria com a
Emplasa. Para Cecília Narras, técnica da vice-presidência da Emplasa, é preciso
conhecer melhor o problema para chegar à solução mais adequada ao plano de
logística de transporte.
Fonte: Diário Oficial do Estado de SP