Para atender à demanda externa, o escoamento da safra de grãos pelo
Porto de Santos neste ano não só foi antecipado como passou a ser realizado em
condições que estão acima da capacidade de operação dos terminais do complexo
portuário. O resultado tem sido constatado diariamente na rodovia Cônego
Domênico Rangoni e nas vias de acesso à zona portuária na Margem Esquerda, em
Guarujá: intenso tráfego de caminhões, que vem provocando congestionamentos
de horas e grandes transtornos à população e ao comércio e à indústria da
região.
Para piorar a situação, as partes envolvidas com a safra de grãos não
adotaram nenhuma medida de prevenção nem criaram uma logística específica
para a questão, o que exigiria pátios dentro das próprias empresas para que
os caminhões pudessem aguardar o momento do descarregamento. Como não foram
providenciados esses espaços, as vias urbanas e a rodovia acabam por fazer as
funções de pátios reguladores. E o prejuízo é dividido com a sociedade.
A consequência dessa imprevidência é um caos, contra o qual os agentes
da Diretoria de Trânsito e Transporte Público (Ditran), da Prefeitura de
Guarujá, pouco podem fazer. Basta ver que o próprio Ditran informou que o
serviço de caminhões de grãos com destino aos terminais opera normalmente com
5 a 7% de sua capacidade, mas, nos últimos dias, esse número tem chegado a
25%.
A saída para esse problema é conhecida de todos: é preciso que as concessionárias
MRS Logística e a América Latina Logística (ALL) ampliem sua capacidade de
acesso ao Porto de Santos, com a colocação de mais trens em funcionamento. Só
assim será possível tirar o excesso de caminhões das vias públicas. Mas essa
é uma solução que exige pesados investimentos e demanda tempo.
Seja como for, é de ressaltar que a MRS tem feito esforços nesse
sentido, investindo R$ 130 milhões em locomotivas com sistema especial de
engrenagens e motores que permite a travessia da Serra do Mar, em direção ao
Porto. Chamado de cremalheira, esse sistema, que freia as composições na
descida e alavanca sua subida, quadruplica a capacidade de movimentação de
cargas no trecho, passando de 7 milhões de toneladas anuais para 28 milhões.
Por enquanto, o sistema vai operar apenas com parte de sua capacidade,
à espera da conclusão das obras de implantação do Ferroanel, o que está
previsto para 2015. Com o Ferroanel, a distância ferroviária entre a região
de Campinas e Santos cairá dos atuais 280 quilômetros para 180 quilômetros.
Além disso, a MRS não será mais obrigada a usar a mesma linha de trens
urbanos nem terá limites de horários. Ou seja, poderá operar também no
período diurno.
Com o Ferroanel, um contorno ferroviário que evitará a entrada dos
trens no centro da cidade de São Paulo, haverá conexão com quase todo o País,
atraindo maior número de cargas, inclusive de contêineres, o que hoje é
impossível, já que a concessionária utiliza a mesma linha de trens de
passageiros.
Pelos cálculos da MRS, o novo sistema cremalheira permitirá a retirada
de dois mil caminhões das rodovias paulistas, beneficiando o transporte de
produtos do agronegócio, como soja, milho, açúcar, farelo e celulose, além de
contêineres. Com isso, será possível desatar o nó logístico que todos os anos
por esta época se forma no Porto de Santos, em função do escoamento da safra.
(Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da
Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação
em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Estadual de Campinas, Unicamp. E-mail: fiorde@fiorde.com.br
Site: www.fiorde.com.br)
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Fonte.: Diário da Manhã
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