O aumento da importação de combustíveis está esgotando o sistema
logístico nacional e traz risco de desabastecimentos pontuais no País,
segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Estudo sobre a evolução do
mercado de combustíveis e derivados de 2000 a 2012, divulgado ontem, também
expõe os prejuízos da Petrobrás com a defasagem de preços da gasolina em
relação ao mercado internacional.
Um gráfico montado pela agência mostra que a Petrobrás teve mais
prejuízo do que lucro desde 2004 com a política de não repassar as oscilações
do mercado internacional aos preços da gasolina na bomba.
O gráfico também revela que a companhia tem perdido com a defasagem de
preços da gasolina desde o início de 2011. No primeiro semestre de 2012, a
petroleira informou ter perdido cerca de US$ 1 bilhão por mês com a diferença
nos preços de diesel e gasolina. A ANP não informou o cálculo sobre o
prejuízo total da companhia no período, mas indica que a diferença entre o
preço internacional e o praticado no Brasil estava em cerca de US$ 20 por
barril em novembro passado, último dado disponível.
A agência diz ainda que, caso a taxa de câmbio tivesse se mantido
constante desde janeiro de 2011, os preços domésticos da gasolina estariam
atualmente compatíveis com aqueles vigentes no mercado internacional. O
estudo, de 23 páginas, mostra os efeitos do aumento do consumo e das
importações. Diz, por exemplo, que a necessidade logística para desembarque
dos derivados aumentou 70% em apenas três anos (2008 a 2011).
Para a ANP, esta tendência deve ser mantida caso não se alterem as
condições de oferta doméstica e de crescimento da demanda verificadas nos
anos recentes, já que terminais, bases e refinarias operam no limite da
capacidade. "Apesar de não se vislumbrar risco de desabastecimento
sistêmico, ele pode ocorrer pontualmente, como mostraram alguns episódios
ocorridos em 2012", diz a agência.
Não há perspectiva de solução no curto prazo, diz a agência. E há
inclusive dúvidas no longo prazo, já que há indefinição sobre a concretização
de projetos de refinaria. As Premium I e II (Ceará e Maranhão) e a segunda
fase do Comperj (RJ), por exemplo, não estão com investimentos confirmados
pela Petrobrás, já que os projetos foram considerados caros demais.
Lógica econômica. "Deve-se frisar que a lógica econômica
incentiva a Petrobrás, em contextos de escassez de recursos, a postergar os
investimentos no downstream, para não prejudicar o andamento dos projetos
mais rentáveis do upstream, sobretudo aqueles relacionados ao desenvolvimento
dos campos do pré-sal", diz o relatório.
A ANP destaca que o diesel, que responde individualmente pelo maior
volume de importações, e também pelo maior déficit comercial, pode trazer
complicações adicionais para a logística de abastecimento com a entrada do
S10 (diesel com menor teor de enxofre) no mercado, já que este requer ativos
dedicados para armazenagem e transporte.
"Problemas de contaminação do novo diesel ao longo da cadeia,
deixando-o fora das especificações estabelecidas pela ANP, poderão se revelar
como fontes adicionais de estresse logístico para o abastecimento
nacional."
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Fonte.: O Estado de S. Paulo
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