A lei que
definiu a jornada de dez horas para os motoristas de caminhão no país já
começou a elevar o custo do transporte de grãos. Desde o dia 17 de junho,
quando entrou em vigor, as transportadoras do Paraná aumentaram, em média, em
5% o preço do frete. A previsão é de um novo reajuste no próximo mês, de mais
25%. Em Mato Grosso, o baque foi ainda maior, com preços 36% mais elevados.
O
presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística
(Setcergs), José Carlos Silvano, estima que o preço do frete ficará entre 20% e
30% mais alto em todo o país. Para o agronegócio, em particular, o aumento pode
chegar a 50%. "As distâncias percorridas nesse setor são maiores, com
grande parte do escoamento da produção de Mato Grosso por Paranaguá (PR). Com
as novas obrigações, o custo será ainda maior", diz.
Segundo a
Ocepar, entidade que representa as cooperativas do Paraná, os custos com frete
representam entre 6% e 8% do preço final da soja e 10% a 12% no do milho, em
média, mas essa proporção varia de acordo com a região. "Calcula-se que,
para a soja transportada de Rondonópolis (MT) até Paranaguá, entre 20% e 25% do
valor do produto final seja frete", afirma Nelson Costa, superintendente
adjunto da entidade.
O
presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de São Paulo,
Norival de Almeida Silva, pondera que o aumento poderia chegar a 50%, não fosse
a famosa lei da oferta e procura. "Se unirmos essa nova legislação às
medidas de redução da informalidade e ao reajuste do diesel, o aumento para os
transportadores seria, com certeza, próximo de 50%. Mas é impossível em
qualquer setor uma elevação tão grande nos preços, então o mercado vai se
ajustar com preços talvez 20% maiores", diz.
A lei n º
12.619, criada em 30 de abril de 2012, determina que o motorista profissional
trabalhe no máximo dez horas diárias ao volante e descanse 30 minutos a cada
quatro horas. A lei também determina que o tempo de descanso à noite deve ser
de 11 horas. "Um veículo que rodava 10 mil quilômetros por mês, com a nova
lei, fará 7 mil quilômetros, uma queda de produtividade de 30%", calcula
Silvano, do Setcergs. "Além disso, com viagens mais longas, vai faltar
caminhão para atender a toda a demanda", acredita.
Em Mato
Grosso, o valor do frete intermunicipal já subiu mais de 30% em algumas
regiões, segundo o Instituto Matogrossense de Economia Aplicada (Imea).
"Para transportar grãos de Sorriso a Alto Taquari e de Campo Novo do
Parecis a Rondonópolis, houve um aumento de 36,4% e 31,6%,
respectivamente", conta Cléber Noronha, analista do instituto.
O valor
do frete de Rondonópolis ao porto de Paranaguá subiu 19,3% no mesmo período.
"De Rondonópolis a Paranaguá, o caminhão levava três dias. Agora demora
mais, porque o motorista tem de descansar mais tempo e a cooperativa ou trading
tem de pagar por isso", afirma Noronha. Os fretes com destino ao porto de
Santos também tiveram altas significativas. Na rota entre Sorriso e Santos, o
preço chegou a R$ 205 por tonelada, aumento de 5,4% ante os R$ 194,50 do mês
anterior.
Já o
trajeto entre Campo Novo do Parecis até o porto de Porto Velho (RO) está
custando R$ 110 por tonelada, aumento de 7,8% no mês. "A adequação do
transporte à nova lei, somada ao pico da safra de milho e algodão, começa a
criar uma tendência sólida de alta no preço do frete em Mato Grosso", diz
Noronha. No transporte de algodão, de Rondonópolis ao porto de Santos, por
exemplo, o frete sofreu um reajuste de 11% em julho ante junho, para R$ 200 por
tonelada.
Silva, do
sindicato dos autônomos, alerta que a fiscalização para cumprimento desta lei
ainda não começou, mas as empresas já estão se adaptando às necessidades e, por
isso, o frete já está subindo. "Algumas questões ainda precisam ser
resolvidas, como os locais onde os motoristas poderão descansar durante o
trajeto, mas qualquer avanço para formalizar este setor é bem vindo", diz.
A presidente Dilma Rousseff vetou o artigo da lei que previa a construção de
bolsões de estacionamento a cada 200 quilômetros de rodovia.
Fonte: Valor Econômico