quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Com oferta menor, etanol continuará caro


Os consumidores de etanol vão ficar afastados das bombas de abastecimento neste ano por um período maior do que no anterior. A safra de cana-de-açúcar está terminando mais cedo e o início da moagem de 2012 começará mais tarde. Com isso, a oferta de álcool será menor nos próximos meses e os preços vão manter tendência de alta.

"A safra está ruim", diz Plinio Nastari, da Datagro, consultoria especializada no setor. Boa parte das usinas vai encerrar a moagem a partir de 15 de novembro, com algumas estendendo a atividade até a primeira quinzena de dezembro. Cerca de 50 usinas já pararam neste ano.

A próxima safra deverá começar de fato a partir do final de abril e início de maio do próximo ano, diz Nastari. Apesar desse cenário, ele diz que as coordenadas do abastecimento e da produção já estão dadas e o setor chegará ao início de maio de 2012 ano com estoques de passagem de 414 milhões de litros.

Demanda menor e preços maiores vão determinar esse estoque de passagem. Quanto aos preços, Nastari diz que o etanol não deve subir muito além do que já subiu. "Um reajuste próximo de 10%." Já o açúcar deverá ter maior variação nos preços, diz ele. Os novos números divulgados ontem pela Datagro mostram que o setor não foi bem neste ano, mas não há previsão de melhora também para o próximo.

A moagem de cana, que foi de 557 milhões de toneladas na safra passada no centro-sul, recua para 490,4 milhões neste ano. No Nordeste, sobe de 63 milhões para 67,3 milhões de toneladas. A menor oferta de cana derruba a produção de álcool para 22 bilhões de litros na safra 2011/12, após ter atingido 27,4 bilhões na anterior.

A produção nacional de açúcar, apesar de as usinas terem destinado mais cana para esse produto, recua para 35 milhões de toneladas, abaixo dos 38 milhões da safra anterior. O total produzido de álcool será de 19,9 bilhões de litros na região centro-sul, abaixo dos 20,4 bilhões de litros que serão consumidos.

Produção menor e entressafra maior jogam o problema para a Petrobras, que deverá fornecer mais gasolina para o mercado nacional. A octanagem do álcool é maior do que a da gasolina. Portanto, a redução da mistura força a Petrobras a reduzir a produção de gasolina para ter esse derivado com octanagem maior.

Além disso, a empresa deverá elevar as importações, o que já vem fazendo. Até setembro, as compras externas somaram 850 milhões de litros, 66% mais do que no ano passado.

PROBLEMA CONTINUA

O problema deste ano continuará no próximo. Os produtores tiveram dificuldade de renovação dos canaviais, devido ao clima seco, e essa cana só estará disponível para as usinas em 14 meses.
A região centro-sul, a principal produtora de cana-de-açúcar, vive atualmente um clima bem diferente dos demais anos. "Temos no centro-sul um padrão típico de Brasília para cima, sem chuva", diz Nastari.

Com isso, a produção de cana-de-açúcar neste ano é de 71 t a 72 t por hectare, bem abaixo do padrão normal, de 84,9 t a 85 t. O clima desfavorável reduziu o rendimento agrícola e a oferta de ATR (açúcar total recuperável) desta safra é 16,3% inferior à da temporada passada na região centro-sul. O cenário não é bom. O Brasil levará de três a quatro anos para voltar ao patamar de rendimento agrícola dos últimos dois anos.

Fonte: Folha de S. Paulo