O aumento na atividade das montadoras para patamares históricos agravou a situação dos estoques de veículos, que alcançaram no mês passado o giro mais alto desde o pior momento da crise financeira de 2008.
Segundo a Anfavea, entidade que abriga as montadoras, agosto fechou com 398,79 mil veículos parados nos pátios da indústria e das revendas, o que equivale a um giro de 37 dias - um a mais que no mês anterior. A rotatividade não chega a um patamar tão negativo desde a crise, quando o giro atingiu 56 dias em novembro de 2008.
O maior acúmulo de estoques refletiu o recorde na produção em agosto, de 325,3 mil unidades - volume que superou a marca de 318 mil veículos registrada em março de 2010.
Em entrevista coletiva à imprensa, Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, tentou justificar possíveis erros na programação da produção de agosto. Na avaliação dele, as montadoras não poderiam desacelerar tão bruscamente a atividade, sob o risco de perder participação de mercado no caso de um crescimento mais robusto das vendas. "É melhor ir ajustando com calma e devagar", comentou o executivo, lembrando que os cálculos de produção também se basearam em um período de consumo mais longo, com dois dias úteis a mais do que julho.
Nesta semana, os esforços das montadoras para adequar os níveis de estoque se intensificaram, com concessões de folgas e férias coletivas aos funcionários em alguns dos principais parques produtivos do país. O exemplo mais notório é a interrupção por quatro semanas - a partir de segunda-feira - na produção da fábrica da Ford em Camaçari (BA).
Nos últimos dois meses, contudo, a General Motors, em Gravataí (RS), e a Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), já haviam suspendido alguns sábados de produção extra. A GM também deu férias de duas semanas para 300 de seus funcionários em São José dos Campos (SP) em agosto. As iniciativas, no entanto, não evitaram o aquecimento da indústria em agosto.
Belini considerou "natural" a busca por uma desaceleração no ritmo de produção, dada a necessidade de o setor ajustar seus estoques - que geram um custo financeiro para as empresas - e se adequar a um mercado que avança mais lentamente. Por outro lado, lembrou que a indústria automobilística chegou a enfrentar um período mais crítico na época da crise financeira, quando os estoques se aproximaram dos 60 dias.
O presidente da Anfavea descartou o risco de corte de vagas de trabalho. Houve um aumento de 0,6%, para 144,7 mil pessoas, na ocupação das montadoras na passagem de julho para agosto.
As principais projeções da Anfavea seguem as mesmas, apontando crescimento de 5% do mercado e de 1,1% na produção.
De janeiro a agosto, as vendas de veículos no país cresceram 8%, para 2,37 milhões de unidades, enquanto a produção cresceu 4,4%, totalizando 2,34 milhões de unidades. Uma revisão das metas só deverá ser considerada no último trimestre.
Fonte: Valor Econômico