segunda-feira, 29 de abril de 2013

Porto 24 horas


Nas grandes metrópoles do Ocidente, as instalações portuárias acompanham seu ritmo de atividades, operando dia e noite. Nem poderia ser diferente, diante do volume de cargas mobilizadas pelo transporte marítimo. Sua capacidade de deslocamento reduz o custo operacional em relação a outros meios do sistema.

O Brasil demorou, por demais, em retomar as prioridades estabelecidas para esse modal de transportes, apesar da sua extensa rede portuária, seu papel estratégico ao longo do litoral facilitando o abastecimento dos principais centros urbanos e da tradição construída pelo País desde a abertura dos portos em 1808, um dos mimos oferecidos pela Família Real como agradecimento à receptividade dos nativos aos do Reino.

O tempo tem-se encarregado de corrigir erros imperdoáveis de decisões administrativas adotadas por gestões governamentais passadas, impostas por pressões externas pela via das fontes de financiamento. As modalidades de transportes marítimos e ferroviários sofreram, a partir da segunda metade do século XX, restrições de toda natureza aos pleitos brasileiros para sua modernização.

As navegações de longo curso e de cabotagem, bem assim, as estradas de ferro preencheram o século XIX e a primeira metade do século XX como os meios prioritários de transportes. Por esses modos, consolidaram a integração do território nacional, abriram suas praças ao comércio europeu, predominante à época, ao mesmo tempo em que intensificaram as exportações brasileiras.

Mas, com o tempo de uso, claudicaram, no Império, envolvendo-se em iniciativas duvidosas, salpicadas por denúncias de irregularidades envolvendo líderes políticos prestigiados pela Corte. As dimensões continentais do País sempre se prestaram, muito bem, tanto para o transporte marítimo, como para os caminhos de ferro varando os sertões.

A República herdou os acertos e desacertos dos dois sistemas, altamente competitivos, pelo seu baixo custo. Mas a ineficiência operacional se encarregou de desgastá-los perante a cadeia produtiva. Nem mesmo os argumentos da logística de grande tonelagem a preços razoáveis convenceram as agências internacionais de crédito em apoiá-los. A preferência era pelo rodoviarismo.

O governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) aceitou o desafio de ligar o País por estradas por onde circulariam os automóveis produzidos internamente. Assim surgiu a indústria automobilística brasileira, provocando o desmantelamento da navegação de cabotagem e de longo curso e os velhos trens encampados pela Rede Ferroviária Federal.

A Secretaria Especial de Portos (SEP), com status de ministério, tenta, agora, impulsionar o transporte marítimo, a partir das bases físicas de sua atuação: os portos. O desafio é gigantesco, diante do acúmulo de problemas estruturais, de especial modo, na área dos operadores dos ancoradouros, onde há diversificados regimes de trabalho.

A Medida Provisória 595, em votação no Congresso Nacional, objetiva favorecer o Poder Executivo com instrumentos imprescindíveis à reformulação da atividade portuária, essencial para o País. Daí a abertura para a possibilidade de investimentos privados diretos nos portos sob gestão da União.

Paralelamente, a SEP já está proporcionando nova dinâmica aos portos para ampliar seu fluxo de cargas. Santos, Rio de Janeiro e Vitória estão funcionando como Portos 24 horas. Em maio, a inovação alcança o Mucuripe, Suape, Paranaguá, Rio Grande e Itajaí. Era preciso.

Fonte.: Diário do Nordeste/CE