A restrição à circulação de caminhões nas principais avenidas da região foi cancelada ontem pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. A justificativa da entidade é de que a medida traria prejuízos ao setor industrial e poderia comprometer o desenvolvimento econômico dos municípios. Para amenizar o impacto dos veículos pesados no trânsito e os congestionamentos, as prefeituras cogitam a volta do rodízio de veículos.
Entre 1996 a 1998, cidades da região metropolitana de São Paulo, incluindo cinco das sete do Grande ABC, adotaram o sistema. Na época, veículos de determinada placa ficavam o dia todo proibidos de circular, não apenas nos horários de pico como é atualmente na Capital. "O objetivo principal da medida era diminuir a emissão de poluentes", explica o então secretário estadual de Meio Ambiente, Fábio Feldmann.
O Consórcio irá contratar instituto de pesquisa para avaliar a opinião da população do Grande ABC sobre a medida. A estimativa é de que sejam gastos R$ 100 mil e o material fique pronto em até cinco meses.
Segundo o presidente da entidade e prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), se aprovado, o rodízio entrará em vigor ainda neste ano. Segundo ele, há dez anos pesquisa mostrava que os moradores da região aprovavam o esquema.
Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em dez anos a frota de automóveis aumentou 59,7%, passando de 632.341 para 1.009.661 na região. Já entre os caminhões, o aumento foi de 72,9% no mesmo período, saltando de 28.527 para 49.323. Com o rodízio, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da Capital, estima que 20% menos veículos circulem pelas ruas diariamente.
Caminhões
A proibição da circulação de caminhões entrou em vigor em fevereiro e o início das multas aos motoristas infratores estava previsto para o dia 9.
O presidente do Consórcio informou que a discussão a respeito da proibição será levada ao Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana, grupo presidido pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). "Vamos suspender (a restrição) até fazer workshop com o setor industrial e ver como podemos recolocar esta discussão de maneira em que haja consenso", explica o petista. Reali classifica a decisão como "bandeira branca" colocada pela entidade.
O presidente do Sindicato das Empresas de Carga do ABC, Sallum Kalil Neto, afirma que não tinha sido comunicado sobre o cancelamento. "Acho que usaram o bom-senso. Se querem implantar, devem discutir antes de forma ampla." Kalil Neto critica, no entanto, o fato de a discussão ser levada para São Paulo. "São realidades diferentes", avalia.
Especialista em trânsito, o advogado José Almeida Sobrinho, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências do Trânsito, considera que a restrição a caminhões não melhora a mobilidade. "Pelo contrário, ao ver que a via está livre, motoristas de automóveis utilizam a via para se locomover. E quando acaba a restrição, juntam os carros e os caminhões."
Municípios terão R$ 200 mil para campanha
O Consórcio irá disponibilizar R$ 200 mil do orçamento para que as prefeituras invistam na campanha Travessia Segura. Segundo o prefeito de Diadema e presidente da entidade, Mário Reali (PT), a orientação é para que as administrações municipais apliquem a verba em ações de rua, e não mais em atividades educativas. "A ideia é intensificar a campanha nas regiões centrais e nas proximidades das escolas", explica.
Apesar do reforço no investimento, Reali não forneceu nova data para intensificar a aplicação de multas a motoristas que desrespeitarem as faixas de travessia. A previsão inicial era de que as autuações começassem no dia 21. Na ocasião, o Grupo de Trabalho de Mobilidade adiou a cobrança por considerar necessária a intensificação do projeto.
"Os municípios já estão multando. Esta é a prioridade para todas as cidades. Em Diadema, por exemplo, a ordem é para multar quem não respeitar o pedestre", acrescenta Reali. O Código de Trânsito Brasileiro estabelece multas entre R$ 85,13 e R$ 191,53 para os condutores que deixarem de dar prioridade a quem está a pé.
A fase educativa da campanha foi lançada na região em dezembro. As ações, no entanto, sempre foram tímidas no Grande ABC, com exceção de São Caetano e São Bernardo.
Em setembro de 2011, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) lançou na Capital o Programa de Proteção ao Pedestre. Segundo a companhia, o número de mortes por atropelamentos no município caiu 42,8% na área abrangida pelo programa.
Agência dos EUA planejará sistema integrado de trânsito
A USTDA (sigla em inglês para a Agência Governamental dos Estados Unidos para o Comércio e Desenvolvimento dará apoio ao Consórcio para o desenvolvimento de estudos com o objetivo de implementar sistema integrado de monitoramento de tráfego, trânsito e de defesa civil em toda a região.
Segundo Mário Reali, a agência norte-americana vai dar suporte na área por conta de sua experiência em implantação de iniciativas do tipo e porque percebeu potencial para realizar o projeto na região. Reali explica ainda que a intenção é integrar centrais de monitoramento já existentes, por exemplo, de Diadema e São Bernardo, e agregar o que existe de mais moderno nessa área. A USTDA tem know-how no assunto.
Apoiou programas de implantação de sistemas desse tipo no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Representante da instituição norte-americana no Brasil, Rodrigo Motta afirma que será contratada consultoria nos Estados Unidos, e, comprovado o potencial do projeto, a agência vai liberar cerca de US$ 400 mil para a realização do estudo, que deve levar seis meses para a conclusão e será baseado nas necessidades levantadas pelo Consórcio.
Segundo o presidente do Consórcio, ainda não há prazo definido para que o plano saia do papel.
Fonte: Diário do Grande ABC