O Grande ABC deve, em breve, aderir à restrição imposta na Capital a respeito da circulação de caminhões no horário comercial. A proposta é que esses veículos sejam impedidos de percorrer por 20 das principais vias da região, com extensão de 40 quilômetros, todos os dias úteis, das 6h30 às 9h e das 16h às 20h.
A partir de quarta-feira terá início campanha educativa e, em 8 de abril, começa a punitiva. No entanto, o Setrans (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do ABC) entregou, na sexta-feira, pré-estudo das consequências da medida na região, essencialmente industrial. "Esperamos que o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) reconsidere", diz o presidente do sindicato, Sallum Kalil Neto. Na quinta-feira, o presidente do Consórcio e prefeito de Diadema, Mário Reali, disse que o prazo foi adiado e que ainda não há data para a entrada em vigor.
Transportadoras da região já estimam prejuízos, que inevitavelmente vão chegar ao bolso do consumidor. O efeito em cascata deverá embutir os gastos extras em toda a cadeia.
"Infelizmente o custo final dos produtos e serviços para o consumidor vai subir, pois os nossos gastos para conseguir realizar a entrega também vão aumentar", afirma Lidiane Gonçalves, gerente de logística da Rapidesh, de São Bernardo. "Para sobreviver no mercado, seremos obrigados a modificar a nossa frota, investindo em caminhões de pequeno porte (conhecidos como VUC), que podem circular sem restrição. Sem contar o gasto a mais com combustível. Os clientes vão desembolsar o dobro para utilizar os serviços."
Lidiane estima que seria preciso investir R$ 200 mil para aquisição dos pequenos caminhões, sem contar os funcionários a mais. Hoje, por exemplo, são necessárias quatro pessoas para realizar uma mudança. Com a nova lei, serão nove, sendo três em cada uma das VUCs. "Gastaria R$ 350 a mais por dia para pagar os salários e os impostos dos empregados", completa a gerente. Embora seja um investimento, ele é feito sem haver o crescimento da demanda. Pelo contrário, todos temem a perda de clientes.
Para Joaquim Belo, proprietário da Transkim, de Diadema, o prejuízo é total. "Vamos fazer uma manifestação assim que a medida entrar em vigor. As principais avenidas vão ficar travadas", conta. "Se a decisão vigorar, ou eu fecho as portas ou eu banco as multas que meus caminhões vão levar todos os dias, já que eu fico na Avenida Piraporinha onde, só para sair, já serei multado."
Belo afirma que, em seu caso, a situação é ainda mais grave, pois ele possui caminhões guincho para o transporte de máquinas industriais, que só pode ser feito durante o dia por medidas de segurança. "E eu não tenho nem a opção de fazer a carga fracionada. Como é que levo uma peça de 15 toneladas aos poucos?"
O coordenador de logística da CG Express, Alexandre dos Reis, de Santo André, concorda que não haverá opção senão pagar as multas. "Não queremos fazer várias viagens porque temos de usar um caminhão de pequeno porte. Além disso, no lugar de um grande, serão cinco menores. O trânsito vai ficar ainda pior. E o consumidor final é quem vai pagar a conta."
INDÚSTRIA - Estudo do Instituto Ilos aponta que as empresas brasileiras gastam 8,5% de sua receita com logística. Em 2005, porém, eram 7,4%. Os custos dos transportes corresponderam a 10,6% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010 (R$ 391 bilhões). Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, o montante equivale a 7,7% do PIB.
Para o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Donizete Duarte da Silva, esse percentual pode subir bastante e, pior, indústrias podem deixar a região por conta da medida restritiva de caminhões. "O Grande ABC é uma região industrial onde as empresas operam sincronizadas. As montadoras, que trabalham 24 horas por dia, recebem peças de hora em hora para montar um automóvel. E são 15 mil itens por carro. Se um fornecedor não entregar o banco, por exemplo, a linha de montagem para.
Atrasando as entregas e com custo maior, as montadoras podem decidir se mudar daqui, o que deixará as autopeças sem clientes e, consequentemente, as levará à falência."
Em segmentos como o automotivo, a perda de tempo sem poder fazer entrega seria de sete horas. Já no de abastecimento dos supermercados, Kalil Neto, do Setrans, explica que a entrega poderá ser feita em horários alternativos, o que não inflacionaria os alimentos em um primeiro momento.
Fonte: Diário do Grande ABC