quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tamoios ganhará 7.000 caminhões por dia


A ampliação do porto de São Sebastião, um dos projetos estratégicos do governo Geraldo Alckmin (PSDB), vai colocar 7.000 caminhões a mais por dia no trecho de serra da rodovia dos Tamoios.

O tráfego desse tipo de veículo no ponto mais crítico da via, a principal ligação para o litoral norte de SP, quadruplicaria: iria dos atuais 2.267 por dia para 9.423 em 2035, quando o porto deverá estar com a ampliação concluída.

Como o aumento de carros no mesmo período será menor, isso mudaria radicalmente a proporção carro/caminhão, que hoje é de um veículo de carga a cada 5,7 carros -ao final da expansão portuária, ela seria de 3,3.

É a mesma relação verificada hoje na via Anchieta, que liga a capital à Baixada Santista e é conhecida pelo fluxo intenso de caminhões.

A previsão -baseada na evolução do tráfego nas rodovias e na expectativa de alta do PIB- está no estudo de tráfego, um dos documentos que subsidiam o licenciamento ambiental da expansão portuária, em discussão.

O cenário já era esperado -e desejado- pelo governo, que vai investir na duplicação da Tamoios e na construção de dois contornos viários em São Sebastião e Caraguatatuba exatamente para viabilizar a expansão do porto.

O objetivo é tornar São Sebastião uma alternativa portuária real para o sobrecarregado porto de Santos e reduzir gargalos no escoamento da produção econômica.
A ampliação se dará em quatro etapas (2019, 2025, 2029 e 2035). A movimentação de cargas irá saltar de 48,6 milhões anuais para 127 milhões, segundo o governo.

O projeto foi suspenso em 2010, por questões ambientais, pelo governador José Serra (PSDB), mas, reformulado, foi retomado por Alckmin, sob oposição de ambientalistas e setores do turismo.
Conforto - Segundo Laurence Casagrande Lourenço, diretor-presidente da Dersa (estatal que cuida da ampliação da Tamoios), "é natural que haja mais caminhões na rodovia". "É preciso dar vazão ao que chega ao porto", afirma.

Para ele, isso será compensado pela melhora da via, que garantirá níveis adequados de conforto ao motorista.

"A rodovia será inaugurada com nível de conforto A", diz, citando classificação internacional para qualidade de tráfego, que vai de A a F.

O estudo mostra, porém, que o planalto atingirá já em 2028 o nível D, que não é aceito hoje nos contratos de concessão de rodovias em SP.

O grande volume de caminhões, diz o estudo, pode levar a restrições eventuais, como vetar a circulação em feriados ou articular com o porto a retenção de veículos.

Obras - A duplicação do trecho de planalto (km 11 ao 64) já tem licença ambiental, e as obras devem começar em março deste ano e terminar em 2013.

Já o de serra não tem licença nem previsão de início. Nos dois trechos, serão duas pistas, com duas faixas de tráfego e acostamentos.

Outros dois contornos viários, em fase de licenciamento ambiental, serão construídos em Caraguatatuba e São Sebastião, este último um acesso direto ao porto.

Projeto é alvo de polêmica no litoral norte - Congestionamentos, prostituição e degradação do centro histórico de São Sebastião são alguns dos temores de ONGs e parte da população em relação ao aumento de caminhões com o porto ampliado.

Muitos caminhoneiros pernoitando na cidade, por exemplo, poderiam atrair prostituição. O tráfego pesado seria um risco a casarões de três séculos.

Em Ilhabela, onde até a prefeitura faz ressalvas, um temor é ter a paisagem afetada por grandes navios e pelo pátio de contêineres. Outra preocupação é que o avanço do porto pelo canal atinja esportes como a vela, símbolo da ilha.


Há fortes críticas ainda para supostos danos ambientais. Em 2010, o governador José Serra (PSDB) mandou parar o licenciamento e mudou o projeto para, entre outros pontos, preservar o mangue do Araçá, que seria aterrado.
Duas audiências ocorreram em dezembro sob tensão. Um "estudo contestatório" foi entregue ao Ibama, órgão federal que avalia a concessão da licença.

O apoio local ao projeto vem, principalmente, de entidades empresariais e de trabalhadores do porto.

O projeto -estimado em R$ 2,5 bilhões- prevê triplicar a área, para 1,2 milhão de m², e elevar a movimentação anual de cargas de 48,6 milhões de toneladas para 127 milhões.

O terminal passaria a receber cargas em contêineres e navios muito maiores.
Motorista terá rodovia melhor, diz governo - Ampliar o porto de São Sebastião é fundamental para a atividade econômica paulista, e a qualidade de tráfego na rodovia dos Tamoios não irá piorar com o maior fluxo de caminhões.

É o que defende o diretor-presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço.

Para ele, o usuário verá mais caminhões durante o trajeto, mas ganhará, em compensação, uma estrada bem melhor que a atual.

Segundo ele, a nova Tamoios terá maior fluidez, menos curvas, aclives e declives, o que permitirá aos caminhões ter boa velocidade.

Além disso, diz, é possível manter o nível de fluidez com medidas adotadas na operação da via -provavelmente por uma empresa privada.

"É possível usar ferramentas para evitar conflito de caminhão com carros. Por exemplo, no verão, impedir caminhão de circular em determinados dias", afirma.

Para ele, boa parte da população conhece a Tamoios como acesso de turistas ao litoral norte, mas ela já tem uso mais comercial que turístico. "Em dez meses do ano, o perfil de tráfego é bem diferente."

Fonte: Folha de S.Paulo