segunda-feira, 11 de junho de 2012

Kassab desengaveta projeto para duas novas rodoviárias


Prefeitura de SP pagou R$ 22 milhões por projetos; Socicam, que administra 3 terminais, critica iniciativa Com metade dos passageiros de ônibus interurbanos que tinha há duas décadas, a cidade de São Paulo pode ganhar até 2014 mais duas rodoviárias, na Vila Sônia (zona oeste) e Itaquera (leste).

Os terminais se juntariam aos do Tietê, Barra Funda e Jabaquara, para completar, mais de 30 anos depois, o que previa o Piterp, o plano diretor de rodoviárias de 1978.

A ideia, desde então, é redistribuir as chegadas e partidas de ônibus, colocando os terminais próximos às saídas e reduzindo o tráfego urbano.

À época, existia apenas as rodoviárias da Luz -desativada em 1982, após a criação do terminal Tietê- e do Jabaquara, inaugurada em 1977.

A rodoviária da Barra Funda veio em 1982. Agora, os terminais completariam o plano, que passou por várias atualizações, a última em 2004.

A prefeitura, que contratou os projetos das rodoviárias por R$ 22 milhões, espera 28 mil passageiros e 250 partidas por dia em cada uma.

A estimativa é bem otimista. Os terminais existentes recebem 17 milhões de pessoas ao ano -ou 46,5 mil/dia-, quase a metade dos 32,1 milhões que atraíam em 1990.

Segundo a Socicam, que administra os três terminais, a média de passageiros por ônibus caiu no período de 33,6 para 23,9. O Tietê, maior rodoviária da América do Sul, opera com 22,5% da capacidade, melhor desempenho entre as três.

"É como ter três hotéis subutilizados e resolver construir mais dois. É um absurdo, a gente não entende isso", diz Eduardo Cardoso dos Santos, diretor da Socicam.

A empresa vai enviar carta ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) contestando a ideia. "Nenhum lugar do mundo tem cinco rodoviárias", diz.

A prefeitura não tem estimativa de custo, mas, segundo Santos, ele deve chegar a R$ 500 milhões.
Metas - A prefeitura afirma que haverá menos ônibus nas ruas, o que deve provocar alívio em várias vias importantes, principalmente nas marginais, e redução do tempo de viagem.

A iniciativa, que consta do plano de metas de Kassab, deve enfrentar resistência também de moradores dos bairros. "Essa ideia foi colocada na gestão da Marta Suplicy (PT) e foi bastante polêmica", diz Márcia Vairoletti, diretora do Movimento Defenda SP.

Para ela, a rodoviária da Vila Sônia vai agravar o problema de trânsito. "Você coloca outras atividades no entorno, mas as avenidas continuam do mesmo tamanho."

Ela diz que "duvida" que a rodoviária saia do papel. "O próximo prefeito pode ter outras prioridades", afirma.

Vila Sônia ficaria com as linhas do Sul do país e de cidades a oeste da capital, como Osasco, Barueri e Sorocaba. Itaquera concentraria, entre outras, as partidas para o Vale do Paraíba e litoral norte.
 Os terminais atuais são do Metrô, que não quis se pronunciar. Os novos também serão conectados a estações metroviárias -além de terminais de ônibus urbanos.

Segundo Santos, a queda de usuários ocorre em todo o país por vários fatores, como a maior facilidade para comprar carros e o aumento do uso de fretados e aviões.

Novos terminais vão alterar roteiro de passageiros - Natália e Maicon moram em Guarulhos e vão a Ubatuba a passeio três a quatro vezes por ano. Como não há linha direta, têm de ir ao Tietê e dali rumar para a praia.

Se a prefeitura viabilizar a rodoviária de Itaquera, a descida ficará mais complicada: terão de ir ao Tietê, pegar o metrô (linha 1-azul) até a Sé e, de lá, embarcar na linha 3-vermelha até a zona leste.
Pelo plano da prefeitura, as partidas para o litoral norte (Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba) serão levadas para Itaquera.

A rodoviária também vai incorporar itinerários ligados aos eixos das vias Dutra, Ayrton Senna e Carvalho Pinto (para cidades como São José dos Campos, Taubaté, Campos do Jordão e Aparecida).
"Seria ruim", diz a corretora de seguros Natália Souza, 25, que faz a rota Guarulhos-Ubatuba, embora admita que o trânsito na marginal às vezes complica a chegada ao Tietê. "Só se for por causa da marginal mesmo", concorda o operador de câmera Maicon Rolim do Nascimento, 21, que faz o mesmo trajeto. "Toda vez que eu venho à rodoviária do Tietê, está tranquilo."

A mudança encurtaria em ao menos 10 minutos a saída de São Paulo, pois as linhas não passariam mais pela marginal Tietê. A saída de Itaquera seria feita pelas avenidas Radial Leste e Jacu-Pêssego.
 Na Vila Sônia, as linhas teriam como destino os eixos das rodovias Régis Bittencourt (Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre) e Castello Branco/Raposo Tavares (Barueri, Osasco e Sorocaba).

O engenheiro Júlio César Fragal, 42, que mora em São José dos Campos, pode ser afetado duplamente: trabalha em Londrina (PR), cuja linha pode ir para Vila Sônia, e mora em São José dos Campos (que iria para Itaquera).

Ele não vê problema, desde que a rodoviária tenha metrô, ônibus e estacionamento. "Se a estrutura for completa, acho melhor." Já o estudante, Julian Rafael Lago, 26, acha que o metrô é um problema. "Está muito lotado."

Fonte: Folha de S.Paulo