segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um caminhão de carga é roubado por dia na RMC


Dirigir uma carreta nas estradas da Região Me­­tropolitana de Curitiba (RMC) se tornou um risco. Não em função da condição das rodovias ou da possibilidade de acidentes, mas pelo aumento do número de assaltos a caminhões de carga. Um levantamento do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar) aponta que nos últimos dois meses 58 roubos foram registrados na capital e região: quase um caso por dia. Só na capital, a média é de 16 casos por mês.

De acordo com o presidente do sindicato, Gilberto Cantú, antes de 2011 ocorria um índice de três roubos de cargas por mês nas estradas da Grande Curitiba. A partir da metade do ano passado, no entanto, os ataques se multiplicaram. A tendência se acentuou em 2012. Segundo relatório do Setcepar, em maio 18 veículos de transporte de carga foram roubados na região; em junho, foram 40 assaltos. “Os números [de casos] estouraram. A categoria precisa de uma resposta rápida por parte do poder público”, diz.
Medo - Há 14 anos dirigindo uma transportadora em Paranaguá, no Litoral do estado, José Carlos Borba é testemunha da proliferação dos assaltos. “As quadrilhas estão muito abusadas. Os motoristas têm medo, estão evitando viajar à noite. Só querem sair de manhã”, conta.

Na semana passada, um caminhoneiro que presta serviços à empresa dele foi abordado em Curitiba por dois bandidos, que o obrigaram a parar a carreta. Um contêiner com 904 caixas de ferramentas foi levado pelos assaltantes e até agora não foi recuperado. O motorista foi feito refém por horas e libertado em um matagal, em São José dos Pinhais. Apenas o “cavalo” do caminhão foi encontrado.

O proprietário de uma transportadora – que pediu para não ser identificado – teve uma carga roubada no mês passado e lança dúvidas sobre a eficiência do trabalho de investigação sobre os assaltos. Na avaliação dele, a falta de prisões está diretamente relacionada ao aumento dos roubos. “A polícia estoura barracões com cargas roubadas, mas ninguém é preso. Como pode o barracão ser estourado, mas não se chegar à quadrilha? O sentimento é de impunidade”, afirma.

O delegado Cassiano Aufiero, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas de Curitiba, contesta a afirmação sobre a falta de prisões. “Em todas as vezes que localizamos um galpão teve pelo menos uma pessoa presa”, diz. Segundo ele, há 14 dias nenhum veículo de carga é roubado na Grande Curitiba. A trégua ocorreu após a prisão de um integrante de uma quadrilha que atuava na região metropolitana. O delegado afirma que, a partir desta detenção, a polícia identificou todo o grupo.

Impacto - A nova realidade das estradas alterou o modo de trabalhar das transportadoras. Segundo o sindicato, o valor do seguro dos caminhões e do próprio frete já sofreu um ligeiro aumento. Algumas empresas têm recorrido à escolta armada para trafegar em trechos de rodovias considerados mais críticos. 

Outras têm ampliado o investimento em rastreadores eletrônicos. “O problema é que todo esse aumento dos custos operacionais encarece o preço final do transporte. O impacto é muito grande”, diz Cantú.
50% dos casos são “golpe do seguro”, acusa delegado O chefe da Delegacia de Es­­telionato e Desvio de Cargas (Dedc) de Curitiba, Cassiano Aufiero, estima que pelo menos 50% dos roubos de cargas registrados correspondam aos chamados “golpes do seguro”. As próprias transportadoras simulariam os assaltos e registrariam as ocorrências com o objetivo de receber dinheiro das seguradoras. “Com isso, elas [as transportadoras] ganham em dobro: ficam com a mercadoria e com o valor do seguro”, afirma.

Segundo Aufiero, um indício da fraude é o fato de produtos não segurados – como pneus – dificilmente serem alvo das quadrilhas. Para coibir o golpe, a polícia tem feito uma investigação prévia quando as empresas vão registrar o boletim de ocorrência. “Se a gente descobrir que está mentindo, a pessoa já fica presa por falsa comunicação de crime”, diz.

Receptador - Outro pilar que sustenta o roubo de cargas, de acordo com a polícia, é a figura do receptador. Como a pena prevista para esse tipo penal é considerada branda, raramente eles ficam presos – na maioria dos casos, cabe fiança. Na avaliação do delegado, o combate à receptação é mais importante que a prisão das próprias quadrilhas.

“Se uma quadrilha for presa, logo aparece outra no lugar. O mais crítico é o receptador. É ele quem ‘dá emprego’ a todos esses bandidos”, afirma.
40 roubos a caminhões de carga ocorreram em Curitiba e região somente no mês passado – 120% a mais do que o registrado em maio, de acordo com levantamento da Setcepar.

Fonte: Gazeta do Povo – PR