quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O gargalo de Santos


Se a infraestrutura logística de um país ou região é boa, ninguém se lembra que ela existe. A infraestrutura só costuma ser lembrada quando a falta de planejamento e de investimentos começa a causar atrasos e prejuízos. Foi o que ocorreu durante o apagão aéreo de 2006, quando deficiências do transporte aeroviário eclodiram simultaneamente, levando o caos aos aeroportos brasileiros, e é o que ocorre agora com o porto de Santos, cujas obras de ampliação e melhoria não chegaram a tempo de evitar a formação de gargalos nas operações.

Desde junho, quando o Sindifisco deflagrou a "Operação Maré Vermelha", o porto foi lembrado muitas vezes nos meios empresariais. A mobilização dos auditores fiscais da Receita Federal (depois convertida em greve) e de outras categorias que atuam no desembaraço das cargas, como os fiscais do Ministério da Agricultura e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desorganizou os negócios das empresas que dependem de insumos importados e infernizou a vida de milhares de brasileiros que compram pela internet em sites do exterior.

Os problemas do porto, no entanto, seriam pequenos se estivessem restritos à briga dos auditores por melhores salários, cujo impacto é sentido quase que exclusivamente nas importações. Muito antes da greve dos servidores federais, o porto tem causado dores de cabeça aos exportadores. "Está formando-se um gargalo grande. Por mais que façamos investimento no nosso parque fabril, continua a dificuldade no escoamento da produção", confirmou à repórter Carolina Santana o presidente da Tecsis, empresa produtora de pás eólicas que funciona em Sorocaba desde 1995, Bento Koike ("Tecsis -Para presidente, Porto de Santos é um "gargalo grande"", 3/9, pág. B1).

A fala de Koike reverbera uma preocupação recorrente no meio empresarial, que há tempos reclama das dificuldades de acesso rodoviário ao porto. "A melhoria do acesso é a decisão mais emergencial", asseverou, em maio último, o diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Martin Aron, durante o 7º Encontro de Logística e Transportes, realizado em São Paulo.

O porto de Santos é o maior da América Latina. Sua área de influência direta responde por mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Praticamente um terço da balança comercial nacional passa por ali. A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), operadora do porto, juntamente com outras operadoras privadas, realiza obras de ampliação, com previsão de dobrar a capacidade de embarque e desembarque até 2013. No entanto, ampliar o porto não basta. É preciso melhorar as condições dos transportes terrestres e modernizar o acesso de caminhões até ele.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" em janeiro deste ano, o presidente da Codesp, José Roberto Correia Serra, admitiu que somente 1% das cargas em contêiner e 10% dos granéis circulam sobre trilhos. Em contrapartida, o porto recebe diariamente cerca de 14 mil caminhões, dos quais 85% chegam entre 8h e 18h. "Falta inteligência de agendamento da carga do porto", admitiu Correia Serra.

Conforme cálculos de especialistas, um caminhão parado por um ou dois dias pode elevar o custo do frete em até 15%. A melhoria da malha ferroviária, com a construção de um ferroanel na região metropolitana de São Paulo (já prometida pelo governo federal), o controle informatizado de acesso de caminhões e a ampliação dos quadros de auditores fiscais da Receita são algumas das medidas anunciadas e que não podem ser postergadas, sob o risco de prejudicar-se o desempenho econômico de toda uma vasta região.

Fonte.: Jornal Cruzeiro do Sul