terça-feira, 5 de novembro de 2013

RJ: Transportador alerta que fim da perimetral afeta o porto




A demolição do Elevado da Perimetral, via expressa que passa pela região portuária do Rio, reabriu a discussão sobre os problemas envolvendo os acessos rodoviários ao porto da cidade. Transportadores rodoviários e operadores portuários têm pressionado a prefeitura para evitar que a derrubada da Perimetral, prevista para começar no dia 17 deste mês, crie mais gargalos para o porto. Há receio de que as obras piorem o já complicado tráfego de caminhões na entrada e saída do porto do Rio.

As obras para demolir a Perimetral se inserem em projeto de reurbanização e desenvolvimento socioeconômico da prefeitura para a região portuária, o chamado "Porto Maravilha". A iniciativa prevê a revitalização de cinco milhões de metros quadrados em bairros do centro próximos ao porto. No lugar da Perimetral, vão surgir dois novos corredores: a Via Binário e a Via Expressa, que terá traçado semelhante ao da Perimetral. No sábado, houve o fechamento definitivo de trecho da Perimetral.

A prefeitura elaborou um plano de mitigação para diminuir os impactos da obra sobre o trânsito. Mas vários agentes envolvidos na operação do porto acreditam que vão surgir gargalos. "Estamos preocupados com o futuro do porto", diz André Seixas, do grupo de transporte rodoviário Irolog. Seixas afirma que os caminhões poderão ter dificuldades de entrar no porto pelo portão 24, no cais de São Cristovão. Esse portão é responsável por cerca de 30% das cargas que entram no porto.

O portão 24 atende aos caminhões que chegam pela Avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio. No trajeto final dos caminhões para entrar pelo portão 24, há um ponto para parte dos ônibus que chega da Baixada Fluminense. No início das discussões, Seixas afirmou que era intenção da prefeitura fechar o Portão 24. Mas ele disse ter recebido informações da Secretaria Municipal de Transportes garantindo que o portão permanecerá aberto. "O que poderá acontecer, em um segundo momento, seria uma restrição de horário para o circulação dos caminhões, o que seria prejudicial para toda a cadeia logística que envolve o porto." Procurada, a secretaria não respondeu ao email.

A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), ligada à prefeitura, disse que já existem restrições de horários para a entrada de caminhões na região portuária, mas Seixas afirmou desconhecer restrições no portão 24. O presidente da Cdurp, Alberto Silva, disse que o portão 24 vai ser mantido aberto "enquanto [a prefeitura] puder compatibilizar interesses".

Ele disse que existe projeto para reposicionar esse portão em um lugar de mais fácil acesso. Hoje o portão se situa em local que exige manobras complicadas para caminhões de grande porte. Silva rebateu críticas feitas por agentes que atuam no porto segundo os quais a prefeitura não enxerga de modo adequado o potencial econômico do porto: "Ao contrário do que dizem, temos preocupação de atender ao porto e à cidade."

Entre os operadores portuários, o entendimento é de que o portão 24 não vai ser fechado, mas poderá haver problema para chegar até ele. Segundo Seixas, que criou um site para os usuários do porto, a prefeitura queria que os caminhões que chegassem pela Avenida Brasil utilizassem um viaduto no bairro de Benfica e seguissem até porto pela Via Alternativa, uma estrada construída em 2010. Essa rodovia, em mão dupla e ainda sem sinalização adequada, desemboca no Caju, bairro da zona portuária que mistura áreas residenciais com empreendimentos industriais. De ruas estreitas, o Caju é um bairro antigo onde funcionou, em um casarão, a casa de banhos medicinais de D. João VI.

O acesso de caminhões via Caju tem se mostrado cada vez mais complicado. Pelo bairro, que abriga um dos cemitérios da cidade, entra cerca de 60% da carga que chega ao porto. Roberto Bomgiovanni, presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Rio de Janeiro (Sindoperj), disse que o Caju virou o "patinho feio" da região portuária. O sindicato e a Associação de Empresas e Estaleiros do Caju e Ilha do Fundão (Aeci) fizeram convênio com a prefeitura segundo o qual as empresas pagam R$ 220 mil por mês para custear o pagamento de 50 agentes de trânsito terceirizados que ajudam a regular o tráfego no bairro. O acordo é válido por dois anos.

No ano passado, União, Estado do Rio e município, com apoio da iniciativa privada, lançaram o programa Porto do Rio Século XXI. O programa prevê obras para melhorar os acessos rodoviários, ferroviários e aquaviários ao porto, cujos principais terminais estão passando por expansões.

Delmo Pinho, subsecretário estadual de Transportes do Rio, disse que há acordo com a prefeitura para manter aberto o portão 24 até que se crie outra alternativa. Já há soluções em estudo. A melhoria dos acessos ao porto passa também, segundo ele, pela construção da Avenida Portuária, um viaduto em pista dupla que fará a conexão entre a ponte Rio- Niterói e a Linha Vermelha, outra das vias de acesso ao Rio.


Fonte.: Valor Econômico