terça-feira, 24 de abril de 2012

Caminhoneiros, sem ter onde estacionar, deixam os veículos em locais proibidos


Alguns motoristas arrancam as placas. Outros simplesmente as ignoram. E assim os caminhões continuam estacionando em locais proibidos, em ruas e avenidas de Santos.

Na Avenida Almirante Cochrane (Canal 5), entre as avenidas Afonso Pena e Governador Mário Covas (Portuária), no Estuário, até a calçada virou estacionamento para veículos pesados. Enquanto aguardam a vez para entrar em um terminal, os caminhões impedem a passagem de pedestres. A Tribuna flagrou quatro deles em cima da calçada.

Já na Rua Silva Jardim, na Vila Nova, a proibição de estacionamento para ônibus e caminhões parece ser apenas um detalhe sem importância. A Reportagem encontrou mais de 10 veículos estacionados, muitos ao lado das placas que sinalizam as irregularidades. No cruzamento com as ruas Henrique Ablas e República Portuguesa, o abuso é ainda maior: um motorista estaciona o caminhão no meio da rua.

No bairro Encruzilhada, o problema é na Rua Pérsio de Queirós Filho, junto ao muro do Clube Atlético Santista. Segundo o técnico em eletrônica Marcos de Oliveira Lopes, morador de um prédio na via, das cinco placas de proibido estacionar, três foram arrancadas. Os caminhões parados no local não atrapalham só o trânsito. “É muita insegurança, à noite fica escuro e não temos visão da calçada”. Lopes conta que usuários de drogas se escondem atrás dos veículos e assaltam moradores.

Na Zona Noroeste, a infração também é constante. A Avenida Roberto Molina Cintra, no Santa Maria, é cotidianamente utilizada pelos caminhoneiros, principalmente durante a noite.
Fiscalização

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos, no ano passado houve 10.365 autuações a caminhões por estacionamento proibido na Cidade. A CET informa que realiza blitze específicas, destinadas à fiscalização de caminhões que estacionam em locais não permitidos. O trabalho é feito em conjunto com a Polícia Militar, em pontos onde o número de reclamações é maior.

Com relação à reposição de placas de ‘Proibido Estacionar Ônibus e Caminhões’, 700 delas foram recolocadas em 2010, além de 300 postes de sustentação. O prejuízo foi de R$ 66 mil. No ano passado, o número aumentou: 920 placas foram repostas, totalizando um custo aproximado de R$ 86 mil.

A companhia diz ainda que vagas regulamentadas para o estacionamento de caminhões foram criadas no São Manoel, em 2007, após reivindicações da Sociedade de Melhoramentos do bairro. Na ocasião, 81 credenciais foram entregues aos caminhoneiros residentes no bairro.

A CET afirma que está estudando a criação de outros espaços em regiões da Zona Portuária, que seriam igualmente utilizados mediante cadastramento. Até o ano passado, a frota de caminhões registrada em Santos era de 10.072 veículos, segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Na Baixada Santista, o número sobe para 24.662.

Se os caminhões têm extrema importância na economia do País e são essenciais para o transporte de contêineres no Porto de Santos, eles também trazem enormes problemas para a Cidade. O tráfego intenso rumo ao cais santista torna o trânsito ainda mais caótico e a falta de áreas para estacionamento faz com que a situação se agrave a cada novo recorde de movimentação de cargas. Sem opções na área portuária, os veículos pesados invadem os bairros.

Como autoridade portuária, a Codesp esclarece que disponibiliza áreas para estacionamento nas avenidas Mário Covas e Augusto Barata, além de zonas de estacionamento rotativo para atendimento a todos os terminais situados na área do Porto.

Mas a solução, admite a Codesp, passa pela mudança no modal de transporte utilizado. Hoje a movimentação de cargas via ferrovia ainda é baixa, aproximadamente 22% do total. “A estimativa do Governo Federal é de que a matriz de transporte de cargas no País seja dividida entre três principais modais até 2025: 35% ferroviário, 30% rodoviário e 29% marítimo e hidroviário. O restante deverá ser transportado por dutovias e aeroportos”, explica em nota.

Sobre a fiscalização dos caminhões, a assessoria de comunicação da Codesp afirma que ação da Guarda Portuária restringe-se à área do Porto, limitada ao disposto no convênio estabelecido com a Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos.

Sindicato

O diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Fredy Aurélio Fraile Soares, garante que orienta os caminhoneiros a não arrancarem as placas. “Isso existia muito no passado. Hoje, a Avenida Perimetral, por exemplo, está com placas e ninguém tira mais. O sindicato pede que isso não aconteça”.

Mas, segundo o representante do sindicato, são “pouquíssimas” as áreas regulamentadas pela Prefeitura. 

“Nós pagamos o ISS (Imposto Sobre Serviços) para ter o alvará; então, estamos pedindo para a CET não multar o caminhoneiro da Cidade que parar na Avenida Perimetral. Já que a Prefeitura cobra esse ISS, que ela não multe a gente. Chega a ser até um crime trabalhar numa cidade portuária e não ter um lugar para guardar o caminhão. Todas as ruas têm placa de proibição”.

Para o diretor do Sindicam, também é necessário que a Codesp implante novas áreas para os caminhoneiros. “A Codesp tem projeto de um estacionamento na Rua Augusto Barata, na Alemoa, para 800 caminhões. Hoje, na mesma rua existe apenas uma área cedida para 120 veículos, que é muito pequena e sem estrutura”.

Soares considera essa a única medida para solucionar o problema. “O caminhoneiro vai para essas áreas (proibidas) porque ele não tem opção. Se tiver um local destinado ao caminhoneiro, ele não vai querer entrar no Município (nos bairros). Nós somos contra entrar na Cidade; o veículo é muito grande, é perigoso, atrapalha o fluxo”.

Fonte: A Tribuna